Querida Lola:
Terça feira de Carnaval sempre foi um dia maravilhoso para mim, porque o meu marido veste-se de mulher e não anda a roçar-se em mim, para me usar a boca da servidão... É um dia de folga, nesta vida de suplício, mas ouvi dizer que aquele senhor de Massamá, o Passos Coelho, não quer celebrar o Carnaval de Massamá... aliás, nem de Massamá, nem de sítio nenhum...
Lígia Fagundes Grelos, Pocinho do Viegas
Querida Lígia:
Massamá é uma terra pequena, uma espécie de dormitório da espécie humana, e é natural que não haja lá nada, nem Carnaval, nem pessoas, é uma espécie de Margem Sul, com uma tabuleta a dizer, "Jamé"... Uma pessoa chega ali, e das duas três, ou entra em depressão, ou é logo assaltada por um bando de pretos, ou com um pouco de sorte, assaltada, depois de violada. As mães andam muito depressa, e sobem, que sobem, sobem a calçada, não venha de lá um mangalhão da catinga que queira usar-lhes o pocinho do viegas, e elas então choram, e fazem-se de piegas... Querida, Carnaval é quando uma traveca quer, e no Conde Redondo, queremos todos os dias, aliás, isto é um microclima do país inteiro, já que cada um faz o papel que melhor sabe fingir: nós, de "gaijas", com chicote, como eles gostam; eles, de casados e pais de três filhos, que depois vão mascarados para casa, de subgerentes do Millennium e do Barcklays, com as cuecas da Massimo Dutti todas molhadas atrás. Felizmente, há lavandarias. Querida, o país está num tal estado que não precisamos de Carnaval para nada: a primeira figura do Estado está na Finlândia, e completamente gagá; a segunda, parece a Lady Gagá, e consta que não percebe nada do que está a fazer, e é tarada por comprar roupas, para vender logo a seguir, às vezes, em pleno avião, a quem calha e estiver ao lado; a terceira, por fim, é uma incarnação da Justiça gagá, que não evoluiu nada desde a Santa Inquisição. Agora, até são os Brasileiros que têm de vir cá prender os criminosos portugueses... Se a coisa pega, vamos ficar com o país vazio. Graças a deus tem havido ajuda internacional, a América, com o Renato Seabra, o Brasil, com o Duarte Lima, e precisávamos de arranjar um país decente, para prender o Dias Loureiro, mas, para esse, tem de ser um país mesmo especial, tipo Zimbabwé, ou Birmânia, ou Coreia do Norte. De qualquer maneira, voltando à base, claro que haverá tolerância na terça feira de Carnaval: se há coisa que nós temos de ser é tolerantes, sobretudo com aqueles que tanto precisam do que nós temos entre as pernas, e são obrigados a estar casados uma vida interia, com as parideiras dos três filhos. No fundo, acho que foi isto que nos levou à Bancarrota, este horrível gosto atávico por andar, secretamente, com a bilha toda rota... Kisses desta sua serva do Entrudo e do entra tudo...