domingo, 28 de abril de 2013

sem título


Gosto de atirar pedras ao charco, acordar as rãs. Somos parecidas, que eu desse conta, não possuímos cauda e respiramos através da pele. Escolho uma pedra arredondada, achatada, o peso ideal é uma coisa intuitiva para rodar pelo ar e à tona de água tocar uma, duas, três vezes. Até cinco, é o meu melhor. Os peixes fingem assustar-se, os mosquitos alados voam e as ditas rãs, saltam, os membros posteriores longos, flexíveis e aquele movimento, impulso, que as faz lançar para cima e para a frente.
É um jogo de aproximação afastamento. E ficamos por aí. Não me interessa a fisiologia, o chamamento, o ciclo de vida. Da primeira vez que dissequei uma rã, caí para o lado, o cheiro a éter, o coração a latejar e eu nauseada. Não se devem beijar sapos, raramente são príncipes. E no entanto há uma toxina latente em cada um de nós, uma língua pegajosa, um tímpano mal tapado.
A rã noturna usa a artimanha da máscara, da camuflagem, da viscosidade. É o seu mecanismo de ataque. Uma noite distrai-se, inocula-se com o seu próprio veneno, incha, arrebenta, implode.
E eu com as rãs a soltar juncos, a coaxar lagos.

12 Responses so far.

  1. .

    .

    . anda por aí uma rã . pela calada da noite . de tantas as noites . das noites quase todas e tantas .

    .

    . uma rã que apenas a si se consome . ao atirar.se às cegas ao acaso . que por acaso nos atinge .

    .

    . mas é só por acaso . e . ao não fazermos caso . porque a ser caso . nosso caso não é .

    .

    . e assim se perde o tempo . ao desgastá-lo em vez e na vez de o gastar . enquanto é tempo .

    .

    . um dia . até porque um dia . finda o tempo .

    .

    .

  2. O texto é belíssimo, a criatura deve ser a criatura de sempre.
    Não é qualquer uma que consegue usar a pedra filosofal para transformar esterco em poesia. Parabéns :-)

  3. A puta de Gaia anda mais uma vez nas caixas de comentários?
    Fogo nela, buceta bolorenta, não usa essas coisas de camdomblê, não, volta tudo de retorno nela.

    Ainda não morreu????

    Manda email de carinho a dizer ao marido e ao filho dela quanto a puta é: hansbeckert@gmail.com

  4. Manuela, o conto é belíssimo.

    Toda a gente sente que é alegoria e faz-me lembrar aquela obra prima de Rameau, a "Platée", para celebrar as bodas do Grand Dauphin, Louis de Bourbon, com Maria Teresa de España.

    Parece que a mulher era completamente desprovida de beleza, e, sendo a vida libertina de Luís XV célebre, o agoiro que Rameau lança sobre o casamento do filho dele não é nada simpático: a obra, é, finalmente, cruel, porque expõe, sem piedade, o que poderá vir a ser o desastre absoluto daquilo que poderia augurar, de bom, um real himeneu. Rameau casa-a com uma rã, e compõe uma sátira sobre rãs, como cadeau de marriage... :-)

    Costumo referir isso, em Estética, por muito que escandalize as alunas, mas a verdade é que a criação artística pode ter, e tem, muitas, infinitas vezes, uma espécie de motor negativo, que só a hermenêutica, ou a exegese, ou o que se queria, poderá desencriptar.

    A História da Arte está repleta disso, como na "Primavera", de Boticelli, onde o cântico da ressurreição absoluta da espantosa Natureza está emsombrado, discreta, e cripticamente, pela imagem obscurecida de Simonetta Vespucci, que, enquanto, à esquerda, incarna a Primavera, à direita já é erguida, pelos braços de Zéfiro, Senhor do Vento, do Sopro, e por analogia, da respiração, para ser entregue ao seu trágico fim da tuberculose...

    Peço desculpa, se pareceu erudição, mas não era para ser

  5. Essa alimária não foi bafejada nem pela sorte nem pela inteligência.

    Parece o ladrão que usa a mesma máscara em todos os assaltos.

    O idiota, ou a idiota, que lhe passou o Navegador "TOR" para continuar a praticar crimes contra a honra, difamação, devassa da vida privada, ameaça, coação, etc., devia explicar-lhe que sempre que nos contadores aparece a assinatura TOR já toda a gente sabe de quem se trata: a frustrada do Canidelo, a cadela sem cão.

    Esquece-se de que tem passado, e de quando comentava, sem TOR e sem máscaras, a partir da própria escola.

    Allegra Geller gelou em Hans Beckert da puta que a pariu

    Isso tudo somado dá uma bomba relógio.

    Não foi aquilo com que ela sempre sonhou?...

    Pois aí está :-)

  6. O seu destino já não está na mão das vítimas

  7. Uma gaja que não dorme estoira. É uma questão de tempo. Parece aquelas lagartas nas quais a vespa parasita injectou os ovos: vai acabar devorada por dentro. Conseguiu uma graaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaande plateia, à espera desse dia.
    Gaja com sorte: houve quem com mais esforço não conseguisse nada

  8. ... e têm filhos, e estão em contacto com turmas de menores. Uma história que acabará mal

  9. Quanto à Manuela, que é o que interessa, com os textos dela pode-se ensinar a escrever e a ler Português :-)

  10. Há um sério risco dessa sociopata se suicidar

  11. .

    .

    . não percebi nada do que o Luís disse à Manuela . vou mas é para o blogue das histórias . ver as libelinhas . e não é que já aprendi a contar até três ? . ou quatro ?

    .

    .

 
 

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