sábado, 27 de agosto de 2016

Correio da Lola - "O meu marido... acho que me quer enfiar um burkini..."


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas




Querida Lola:

Querida Lola: O meu Francisco viu-me a estender roupa nas traseiras, com as maminhas todas de fora, e só o ouvi dizer, anda para dentro, Mariana, senão tenho de te enfiar um burkini, para tapar isso... Ando tão assustada, querida Lola... 



Mariana Benchimol, Tires





Querida Mariana:

Antes de mais, deixe-me dizer-lhe que é realmente uma mulher moderna, informada, a quem estão a acontecer aquelas coisas urgentes que agora passam na SIC-Notícias e no Correio da Manhã-TV. Burkini, disse a menina?... O seu Francisco queria enfiar-lhe um burkini, só por que a viu toda pendurada na janela, com as tetas derreadas por cima das janelas do vizinho de baixo?... Só Deus saberá que desgosto o terá feito desejar condená-la a essa medida extrema: se o formato só e a extensão das suas tetas à janela, se o protesto do vizinho de baixo, pela tão grande carência de sol... De qualquer maneira, ainda bem que me escreve, por que foi corajosa, e não foi como as outras, que por aí comem e calam. Não comeu, não calou, e ainda escreveu à sua Lola, que tudo sabe e tudo aconselha... O Burkini, é de facto, um problema dos nossos dias, já que se passaram décadas e tentar deixar as mulheres mostrar o que têm de melhor, para depois vir agora uma maré de viúvas negras, a querer relançar os visuais na Idade Média. Transformista, como sou, pode acreditar que acho que quanto mais se vir, melhor, mas o problema está em que não estamos em França, mas na Cauda da Europa, terra das viuvinhas e das nazarenas de bigode, das transmontanas pilosas e das matriarcas de voz grossa. Deve ter visto, como eu, as elegâncias de Nice, Côte- d'Azur, a mergulhar nas águas opalinas da Croisette, ou a molhar o pezinho em Antibes. Em Fréjus já há mais vestidas do que nus. Em Juan-les-Pins e na Salis, vêm do fundo do mar e as trouxas fundamentalistas fazem ali mesmo, com o corpo, a drenagem dos fundos da areia, mas as mais lânguidas, são mesmo as de Cap Ferrat, que quando o muezzin chama, se prostram todas dentro de água, viradas para o Mónaco, que dizem umas para as outras, fica mais ou menos na direção de Meca, não fica, mas faz de conta, que aquela zona é toda cenografias. Agora, querida, quando vimos para Portugal, terra das mulheres mais feias da Europa, a coisa pia fininho. A primeira coisa é que, para fazer um burkini aqui iamos precisar do dobro, ou triplo, do tecido, para enfiar aqueles excessos, as estrias, os bofes e a pele de laranja. Podia ser bom, produzisse Portugal tecidos, mas já não produzimos, é tudo importado, e para enfiar uma daquelas orcas da Cova do Vapor, da Trafaria, da Praia da Mata, da Afurada ou de Vila Peida de Mil Fodas, ia ser mais um colossal desequilíbrio da balança comercial, a enriquecer produtores de algodão turcos, mexicanos, chineses ou monhés... Lá vinham uns contentores de Daca ou de Bombaim, ou mesmo de Taipé, com pano para fazer trouxas. Na verdade, sai mais barato ter aqui as portuguesas cristãs do que fundamentalistas, e esperando que essa crise horrível da Riviera não caia cá. Ia ser terrível ter as praias da Nazaré ocupadas por manchas negras, a contrastar com snifadores da linha branca do canhão da Praia do Norte. Há dar e dar, há ir e snifar. Eu até poderia ser mazinha, e acreditar que o seu Francisco detetou aí um problema estrutural, e resolveu esconder as suas misérias para sempre, e só deus saberia se tinha razão, mas não vamos por aí, vamos pela realidade, que ainda pode ser pior do que esta minha melancólica teoria. Só eu, Lola, e as minhas colegas, sabemos as misérias que se vivem nos lares desses fabulosos homens portugueses, quantas vezes casados com um tremendo produto de fumados, uma coisa perdida de uma feira de enchidos, quantas vezes, depois de cumprido o ato, não abrem a carteira para nos mostrar a legítima, e ainda não se falava aí dos burkinis, já eu pensava cá com os meus bicos de silicone, vije maria, se é isso que tens em casa, como percebo eu bem tu passares os fins de semana aqui... Na verdade, querida, se desse aqui uma crise islâmica, aliás, nem precisava de dar, bastava que os olhos que não vêem passassem subitamente a ver e a sentir, e eram todas enfiadas em sacos de batatas, cosidas, e ficavam eles todos a olhar uns para os outros, mortos de desejo, a serem os cristianos ronaldos uns dos outros, enquanto só se ouviam gemidos dentro das serapilheiras delas... Eu sei que isto vai muito mais além da carta que me escreveu, mas já agora, por que a cultura não ocupa lugar, deixe-me que lhe diga que essa questão da burka está toda mal vista, e muito mal analisada, já que está completamente enformada pela cultura machista, em que só se vê a pobre da fêmea enrolada em trapos, e o macho garboso a pavonear-se ao lado. A realidade é bem outra, e acredite nas minhas palavras, por que eu estou a meio caminho dos dois sexos: na verdade, a emburkada é uma gaja premeditada, amatriarcada e dominadora, que resolveu tapar a cara atrás de um trapo, enquanto arrasta pelo braço o seu macho espantoso. Ela está sempre a medir-se com as burkas do lado, para lhes mostrar que o cavalão dela é muito melhor do que o cavalão da vizinha, e não só o cavalão é melhor, como a vizinha, que não lhe consegue ver as fuças, ficará a imaginar quão mais bela do que ela a outra será, por detrás de tantos trapos, para ter conseguido arranjar um machão daqueles, de pôr as emburkadas todas lá da medina a roer as unhas... A burka, querida, não é uma coisa que os homens impõem às mulheres, mas uma coisa que as mulheres impõem a si mesmas, para fazerem as outras estoirar de inveja, por interposta pessoa. Passeiam os machos como a Brigitte Bardot passeava, há cem anos, os seus cãezinhos, e eles adoram deixar-se passear, já que o pior matriarcado é aquele que não vem declarado no IRS. Em Portugal, a coisa é muito mais realista, e já deve ter visto, como eu, os centros comerciais cheios dos melhores homens da Europa, atrelados às piores coisas que se possam imaginar.. Em Portugal, o macho anda sempre com a tralha atrás. Se fosse em Cannes, ainda se poderia imaginar que, ao lado de um macho fantástico, ia uma fêmea ainda mais fantástica, mas aqui, o olhar é imediatamente desenganado, e vê-se que aquilo que os cerca é sempre uma versão continuada, e caseira, do belo e da monstra, repetida até à quinta casa. Acho que já me perdi, e já respondi demais, e deixe-me acabar assim: burkini?... ele quer pôr-lhe burkini?... Pois deixe que lhe o ponha, e depois vá passeá-lo pelo braço, ainda vão pensar que, com um homem desses, e toda enfaixada, a menina é uma Gisele Bündchen portuguesa, e, em vez de olharem diretamente para si, de cada vez que vai pôr a roupa  a escorrer, com as tetas pingadas, e só verem em si aquilo que na realidade é, uma Joana Vasconcelos, uma Clara Pinto Correia ou uma Maria Velho da Costa falhada da Cauda da Europa, querida, uma troncha, baixa, gorda, atarracada e condenada a viver num quintal da vila de Tires. Kisses, e emburke-se, meu amor, ou emburkine-se, já que estamos no mais puro verão!...

 
 

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