quinta-feira, 16 de maio de 2019

Joe Berardo, um cancro português

Joe Berardo é uma típica neoplasia portuguesa. Esta criatura é uma espécie de rapsódia do Regime: condecorada pelo Eanes, foi recondecorada pelo Sampaio, e fortemente elogiada pelo Marcelo. Para ser completamente má, só lhe faltaram o Soares e o Cavaco. Tem uma espécie de sótão de artefactos culturais, aos quais se usa chamar "Coleção Berardo". Pior do que aquilo, só os "mirós" do BPN. É uma verdade que dá algum trabalho, mas já uma vez por lá passei, com o olhar severo e crítico, para selecionar o que estava bem na parede, o que roçava os limites do suportável, e o que devia ser imediatamente retirado. Também havia coisas para queimar, mas dada a generosidade da estação, chegou-me então virá-las de costas para o visitante. Não há ali uma única peça que conheçamos do clube imensamente seleto e restrito das estantes das nossas histórias de arte. Creio que o grande colecionador é sempre sibarita, apenas escolhe o inimitável, e não o tropeço, só pela presença e má digestão da presença de uma assinatura. Em Arte, a assinatura é uma invenção tardia. Antes da assinatura, já a Humanidade fervilhava de obras-primas. Depois da assinatura, nem por isso. Faz falta ao Berardo a profundidade da reflexão estética, da mediana, pelo menos, ou de, pelo menos, perceber que o bom gosto é uma roupagem que não é concedida a todos, e, sobretudo, não foi talhada para ele. Berardo não passa de uma espécie de "Gulbenkian" da Santa da Ladeira, ou de uma dona branca do culto duvidoso. O ruído sempre foi inimigo dos museus, e o Berardo não passa de um museu cheio de ruído, e do pior ruído, o ruído visual. Tudo o resto não é mais do que a transposição para o nosso paupérrimo quotidiano social e político dos seus muito tristes traços de caráter. Por que outra das formas da impunidade, para além da impunidade do mau gosto do recoletor, é a impunidade do riso alarve na cara dos eleitos da Democracia, uma grave dislexia da cidadania, que já custou muitos milhões ao contribuinte e continua a dever milhões à decência. Se houvesse decência em Portugal, o Berardo teria sido imediatamente preso, à saída da audiência parlamentar. Um dia, acabará “recomendorado” pelo Galamba.

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  1. Nesta listagem de cancros falta, sobretudo, um dos piores cancros, Alexandre Melo

    "O crítico e comissário Alexandre Melo foi nomeado na semana passada assessor para a Cultura do primeiro-ministro José Sócrates. Com este nome, Sócrates fez uma escolha de maior visibilidade e mais ligada à arte e à cultura contemporânea em relação a qualquer dos seus antecessores recentes: Durão Barroso foi buscar André Dourado, mais ligado ao património histórico; António Guterres chamou Francisco Motta Veiga, que vinha do meio da música clássica. Melo, de 46 anos, tem sido um dos nomes centrais da crítica de arte das últimas duas décadas em Portugal, associado à emergência de nomes hoje consagrados, como Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis ou Rui Chafes. Mas é também reconhecido pelo meio da Nova Dança Portuguesa, tendo colaborado, nomeadamente, com o coreógrafo e bailarino Francisco Camacho. Licenciado em Economia e doutorado em Sociologia, nas artes plásticas é um dos agentes nacionais melhor posicionado a nível internacional, sendo colaborador de algumas das mais reconhecidas revistas da especialidade, como a Flash Art, a Artforum, a Art Press ou a Parkett. Professor de Sociologia da Arte e Cultura Contemporânea no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), desde o início da década de 80 que escreve regularmente para jornais como o JL e o Expresso. É também curador das colecções de arte do Banco Privado Português e da Fundação Ellipse, com cerca de 30 investidores, nomeadamente portugueses, espanhóis e brasileiros. Como comissário, foi responsável pela participação de Julião Sarmento como representante português na Bienal de Veneza de 1997, e pela do escultor Rui Chafes e da bailarina e coreógrafa Vera Mantero na última edição da Bienal de São Paulo (2004). Entre os seus livros publicados estão Aventuras no Mundo da Arte (2003), O que é Globalização Cultural (2002), O que é Arte (3ª edição, 2001), Arte e Mercado em Portugal (1999), As Artes Plásticas em Portugal dos anos 70 aos Nossos Dias (1998) e Velocidades Contemporâneas (1995). V.R."

 
 

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