skip to main |
skip to sidebar
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Imagem do Kaos
As sociedades podem, num dado momento, confrontar-se com três tipos de vergonha: a vergonha de ter um Presidente da República como o atual, a de ter uma República que atualmente desceu ao nível de permitir um tal Presidente, e a de se pertencer a um povo que chegou ao extremo de uma República onde é possível a uma criatura desse calibre ascender a seu Presidente.
A frase soa bem, mas torna-se complexa, se a analisarmos do ponto de vista da operacionalidade: é fácil mudar um Presidente, substancialmente mais difícil revirar uma República, e praticamente impossível alterar um Povo, e o grande problema reside justamente no Povo, que, em janeiro de 2011, na altura exata de afastar da cena política o grande responsável pela destruição do tecido produtivo português, e pela total desacreditação da Classe Política, pelo contrário, o reelegeu, para uma lenta agonia, algures entre a degenerescência neurológica e uma espécie de variante sociopata, na qual o Mundo se parece resumir à celulite da Maria, às crises de protagonismo, em Medicina Dentária da Patrícia, e ao meio queque dos netinhos. O resto chama-se "País", e espera-se que corra depressinha, e bem, para dar tempo a que o segundo mandato possa ser inscrito em mais uma linha de alguém que chegou ao medíocre topo da sua frouxa base.
A petição que corre na Net, e que a esta altura já vai acima dos 37 000 signatários, a pedir a "Demissão do Presidente da República" (!) é qualquer coisa que nem a Kafka lembraria, porque representa o nível mais baixo daquilo que um Povo pode fazer ao seu mais alto magistrado, o que, de alguma forma, nos poderá levar a pronunciar que os povos são iguais, mas há uns mais iguais do que outros, e revejo o que escrevi antes, e tiro o chapéu ao elevado ato de cidadania que correspondeu a ter elaborado tal documento. Cada nova assinatura que nele é aposta representa uma espécie de tortura da gota de água para a verdadeira anomalia democrática que Cavaco Silva representa, na III República Portuguesa. Podem esmifrar-se os porta vozes do Sistema, e os comentadores pagos, para amainar a tempestade, porque esta é das piores, das surdas, que não cai numa bátega de água, mas antes se escoa, em forma de ampulheta invertida, num insuportável desgaste que poderá levar este miserável baralho de cartas de inimputáveis, sociedades secretas, gente sem ética nem vergonha, cuja epígrafe é a caricata figura de Boliqueime, a desmoronar-se.
Em qualquer sociedade civilizada, mal sonhasse que havia uma vaga de cidadania que lhe retirava definitivamente o tapete, qualquer grande figura histórica se demitiria. Este não, mas não nos esqueçamos de que o pai vendia em cobertores de feira, e o filho conseguiu ir ligeiramente acima, num tempo tão decadente, em que ir um bocadinho acima podia coincidir com ocupar o Palácio de Belém.
A questão nem sequer é política ou ética: é uma referência histórica, já que, afinal, o homem que nunca se enganava, e raramente tinha dúvidas, provou que até era capaz de fazer um povo que achava que não tinha autonomia, senão para se enganar, e que décadas de ditadura tinham levado à pior das opressões, o complexo de culpa de estar permanentemente em dúvida..., que, que... até era capaz de fazer esse povo despertar.
A petição da Net, pela sua própria impossibilidade de operacionalidade, é uma espécie de bomba relógio, pela qual toda a gente anseia já a ver convertida numa cifra redonda, a ser pronunciada solenemente, e em sessão plenária da "Assembleia Nacional", o número total dos que assinaram, a rejeitar ser representados pelo Sr. Aníbal, um número redondo, tal os 10 000 € de reforma, mais as migalhas dos negócios escuros do BPN, mais as permutas de casas nas urbanizações saloias do ALLgarve, mais uma infinidade de pequenas manobras de uma mente menor, a que nunca teremos acesso, mas que se insere na célebre dinâmica do chico espertismo de uma certa falta de classe da Lusitânia, predominante ao longo dos séculos.
É totalmente irrelevante ao que a petição venha a conduzir. É um ato cívico assiná-la e dar lhe trela para que role sozinha, até ao momento em que, perante a Câmara que representa soberanamente o Povo, haja uma cifra que dirá que os Portugueses, no ano aziago de 2012, decidiram que tinham uma criatura a representá-los, indignamente, como Mais Alto Magistrado da Nação. Para escritores, como eu, mais uma assinatura é infinitamente mais eficaz do que uma bala: é uma prova de uma maturidade cívica, muito próxima do Sarcasmo, e muito prima das cantigas de escárnio e mal dizer, profundamente enraízadas na nossa forma íntima de ser coletivo, que corresponde a uma enorme gargalhada nacional.
Cidadãos: é totalmente irrelevante que o Cidadão Cavaco Silva se demita do cargo que está a vexar e a enlamear. Ele não precisa de se demitir, ou ser demitido -- a tal impossiblidade constitucional -- da miserável marquise republicana em que se instalou, porque, há muito, que já se demitiu das suas funções. É um cadáver político ligado ao pulmão artificial de um Sistema que dele precisa, para se manter, mas que a História já tratou antecipadamente. Sentemo nos, pois, e assistamos, com a serenidade e o bom senso que são próprios das sociedades civilizadas, às quais, há muitos séculos, pertencemos, a este derradeiro episódio de um Sistema que necessita de uma urgente desinfeção.
(Duo do relance, no "Arrebenta-Sol" e em "The Braganza Mothers")
Essencialmente Cavaco.
Nomeadamente Cavaco.
Obviamente Cavaco.
Puta que o pariu.
Comparem o percurso desta figura miserável com o da Infanta Adelaide, que fará 100 anos, no dia 31 de janeiro
Subscrevo totalmente este texto. Gostaria de saber se me cedem
a foto para inserir no meu http://intemporal-pippas.blogspot.com
com os devidos créditos.Basa uma mensagem com a resposta.
Um beijinho
Irene
As imagens do Kaos sempre foram públicas e de público usufruto :-)