Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Cloud Sisters de Maggie Taylor
Cloud Sisters de Maggie Taylor
Alice
era a mais velha. Acordava antes dos pássaros e deitava-se quando já todos
dormiam. Era sólida como os carvalhos e tinha a beleza antiga dos rios antes do
degelo. Prendia os cabelos em duas longas tranças e quando se ria a casa
abanava e o cão escondia-se debaixo da mesa. Era corajosa, curava os galos da
testa e as feridas nos joelhos e sabia ouvir os segredos que lhe contávamos e queríamos
guardar. Pegava na faca e barrava de manteiga as fatias de pão e dizia, se tu
quiseres. Assim, se tu quiseres e nós já sabíamos que era ela que queria, que
precisava, que nos estava a pedir. Ninguém resistia, porque querer, é todo um caminho
que nos leva e na volta a estrada é outra e à primeira trincadela estávamos já
rendidos a dizer sim. Quando o sabor salgado da manteiga atingia o céu da boca,
ela punha-nos a dobrar os lençóis, a regar o canteiro das túlipas, a separar as
gemas das claras.
Não
tolerava a mentira e apanhava-nos na mais inocente delas, mas espantosa era a
sua capacidade para resolver equações. Do primeiro e do segundo grau. E somava,
multiplicava e dividia sem precisar de lápis ou papel. Poderia ter ido longe,
diziam. Mas não fora, ficara ali junto de nós e quando todos partimos ela
permaneceu. As florestas de carvalho não mudam de casa e é dela que eu me
lembro quando sinto uma necessidade absoluta de confiar.
Tantas
foram as voltas e as contravoltas da minha vida, mas quando procuro as minhas
raízes, encontro-as. Nos dedos finos de Laura, no rapaz lua que Deolinda me
bordou e que sou eu, na coragem de Alice.
Regressamos
então os quatro, eu e as minhas irmãs à casa da infância e alguém diz, se tu
quiseres e soltamos os segredos guardados, dobramos e desdobramos os nossos sonhos
e até o cão que é porventura outro e não o mesmo, perde o medo e sai debaixo da
mesa. Alinhamos pequenos frascos cheios da terra dos lugares que habitamos, Alice
não, a terra dela é esta, lá fora, a das tranças, a da beleza antiga dos rios
antes do degelo.
Amanhã
talvez chova ou seja apenas inverno e eu insonoro e invisível no meu cavalobranco.
terceira voz: Alice
Os belos contos de outono :-)
As suas hidtórias prendem-me numa forma feliz de libertação.
Fui em busca do Eterno, para o reler, tenho a leitura em atraso, noutro dia, não pude comentar.
A auardar que ele regresse.
Abraço