domingo, 23 de junho de 2013

o trema do homem-pássaro

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

Construo os poemas no ponto mais alto da minha cabeça, como o cantor coloca a voz esquecendo a garganta e o peito. Depois vou cortando palavras, raramente acrescento, a frugalidade imperfeita.
O homem viaja de pé na carruagem apinhada de gente. Ninguém o ouviu, mas ele não parece importar-se grande coisa. E continua: às vezes desejaria mudar tudo em mim, a roupa, o cabelo, como um pássaro que muda de penas, alterar a rota desta carruagem, desarticulá-la, desmembrá-la. Escrever o impossível.
Foi neste momento que sentiu qualquer coisa na parte detrás da boca, entre a língua e o palato, salivou, engasgou-se, deixou cair uma vogal na palma da mão. Sentiu-se outro.
Quando saiu do comboio era pássaro e tinha um trema no alto da cabeça.

2 Responses so far.

  1. ... só me faz lembrar um olhar com que me cruzei, no outro dia, e pensei, olha, a Manuela poderia ser este rosto :-)

  2. Semiramis says:

    Poema da lua cheia :-)

 
 

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