Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Marcamos uma linha, um traço. De um lado terra do outro
mar. Fronteira é o risco.
O horizonte também é uma linha e pode ser perspetivado ou
racional.
Construiu o mais simples, uma estrutura de canas em forma
de losango, papel de seda amarelo torrado, círculos azul cobalto. Foi cuidadoso
com a corda e o carreto e acrescentou uma cauda para estabilizar.
Disseram-lhe, não voa, vai cair, enrolar. Ele não ouviu.
As pessoas falam sempre demais.
Encontrado o equilíbrio entre a força do vento e a da corda
aguentou-se no ar, subiu, desceu, volteou, raiou as cabeças das crianças na
beira das ondas, estalou ao mudar de direção.
Foi assim o tempo que ele quis, o papagaio estrela, a
corda e a perícia dos dedos. Uma eternidade. Depois num impulso, largou-o,
soltou-o e antes do mergulho brilhou sobre o mar.
Os peixes-serra e os ratões olharam desconfiados aquele
ser nem pássaro nem peixe tal qual os que disseram, não sabe nadar, afoga-se.
Na ignorância do que falavam, estabilizou as cartilagens, consolidou a cabeça e
as barbatanas, chicoteou a cauda, serenou uma curva em corrente descendente e
deixou-se ir na amplitude da água.
Lá no fundo dois ou três grãos de areia trocaram de
lugar.