domingo, 3 de fevereiro de 2013

raiar

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas



Marcamos uma linha, um traço. De um lado terra do outro mar. Fronteira é o risco.
O horizonte também é uma linha e pode ser perspetivado ou racional.
Construiu o mais simples, uma estrutura de canas em forma de losango, papel de seda amarelo torrado, círculos azul cobalto. Foi cuidadoso com a corda e o carreto e acrescentou uma cauda para estabilizar.
Disseram-lhe, não voa, vai cair, enrolar. Ele não ouviu. As pessoas falam sempre demais.
Encontrado o equilíbrio entre a força do vento e a da corda aguentou-se no ar, subiu, desceu, volteou, raiou as cabeças das crianças na beira das ondas, estalou ao mudar de direção.
Foi assim o tempo que ele quis, o papagaio estrela, a corda e a perícia dos dedos. Uma eternidade. Depois num impulso, largou-o, soltou-o e antes do mergulho brilhou sobre o mar.
Os peixes-serra e os ratões olharam desconfiados aquele ser nem pássaro nem peixe tal qual os que disseram, não sabe nadar, afoga-se. Na ignorância do que falavam, estabilizou as cartilagens, consolidou a cabeça e as barbatanas, chicoteou a cauda, serenou uma curva em corrente descendente e deixou-se ir na amplitude da água.
Lá no fundo dois ou três grãos de areia trocaram de lugar.
 
 

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