sábado, 22 de dezembro de 2012

a estrela

 
Quando escureceu sentiram medo, mas foi apenas aquele instante que sucede ao espanto ou à dor ou ao abandono. Do lado do mar soprava um vento morno, do lado da terra estalavam as ervas do frio que fazia e o céu era um imenso azul despovoado de luz.
Chegou o peixe lua e disse-lhes, trago-vos uma concha, um búzio gigante, recolham-se nele com o menino na areia da praia ou junto de uma rocha e assim fizeram. A mulher tricotava um casaquinho de lã, o búzio soprava o canto das marés e a criança sossegou enroscada nos joelhos do pai.
Depois vieram os caranguejos e as gaivotas, os cavalos marinhos e os cavalos da terra, as baleias, as tartarugas, os lobos e os cordeiros. Os pescadores chamaram as mulheres e os filhos, e estes juntaram gravetos, pedaços de madeira dos naufrágios antigos, acenderam pequenas fogueiras e à volta delas sentaram-se e comeram bolos de amêndoa, abóbora e canela.
A estrela chegou mais tarde, já todos dormiam.
 
 

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