Quando escureceu sentiram medo, mas foi apenas aquele instante
que sucede ao espanto ou à dor ou ao abandono. Do lado do mar soprava um vento
morno, do lado da terra estalavam as ervas do frio que fazia e o céu era um imenso
azul despovoado de luz.
Chegou o peixe lua e disse-lhes, trago-vos uma concha, um
búzio gigante, recolham-se nele com o menino na areia da praia ou junto de uma
rocha e assim fizeram. A mulher tricotava um casaquinho de lã, o búzio soprava
o canto das marés e a criança sossegou enroscada nos joelhos do pai.
Depois vieram os caranguejos e as gaivotas, os cavalos
marinhos e os cavalos da terra, as baleias, as tartarugas, os lobos e os
cordeiros. Os pescadores chamaram as mulheres e os filhos, e estes juntaram
gravetos, pedaços de madeira dos naufrágios antigos, acenderam pequenas
fogueiras e à volta delas sentaram-se e comeram bolos de amêndoa, abóbora e
canela.
A estrela chegou mais tarde, já todos dormiam.