domingo, 14 de abril de 2013

deixa-os ficar


E a minha mãe deixava.
Um misto de pó de arroz e doce de morango, abraços apertados a sufocar saudades e alfazema. Galgávamos as escadas como potros por ferrar, a cera de abelha nos soalhos de tábuas compridas, não mal faz são crianças e nós temos ainda tanto tempo aos domingos de manhã ou outros dias.
O sol desenha linhas de pó entre as janelas e o tapete, o relógio de pêndulo, a arca, o pátio da amendoeira.
Não se guardam segredos nas casas antigas, fingimos que não ouvimos apenas. O menino Joãozinho homem feito apareceu enforcado nas traves do celeiro, a Teresa enlouquece quem sabe, todos sabem até nós.
Estes eram dias tão longos que eu nem sei porque razão as minhas avós não governaram a europa como se fora a sua casa, melhor seria.
À tardinha as árvores enchiam-se de aves a copa a crescer em flores e bicos e patas.
Deixa-os ficar, aos pássaros, mais um dia.
 
 

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