Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
A
chave, guardo-a no contador da água. Os vizinhos sabem que é ali que eu a
escondo, pois o mais seguro lugar é aquele que todos conhecem. A curiosidade e
o distanciamento asseguram-se desta forma.
Abre
então as janelas para o sol nascente, sopra as cortinas, espalha pela casa o
cheiro a café e só depois de ela te reconhecer os passos, inicia a tarefa de
contar os vasos. Os maiores não me têm causado problemas, numa modorra
contemplação do Tejo, deslocam-se apenas à passagem dos cacilheiros que tão
pouco são cacilheiros, mas se vão para Cacilhas sê-lo-ão ternamente para mim.
Os mais pequenos, pelo contrário, desaparecem nas noites de lua nova, mas
peço-te que os procures pelos telhados e nas mansardas e os chames de volta aos
parapeitos e às varandas. A lista com os nomes está na porta do frigorífico.
As
violetas apodrecem se a água for excessiva, deita-a no prato, espera trinta
minutos e escorre a que ainda restar.
Os
malmequeres são os meus bem-amados e basta muito sol nos dias quentes para lhes
queimar as pontas das pétalas. Se isso acontecer, rega-os abundantemente e
explica-lhes a razão das flores compostas. Verás como se reconstituem.
Os
jarros são como eu, aquáticos, não causam problemas.
As
plantas mais jovens, as da floreira baixa, são regadas todos os dias de
manhãzinha ou ao fim da tarde e as tulipas amarelas se te apanharem a jeito,
falar-te-ão de bolbos e de baixas temperaturas.
Os
melros e os pardais gostam de pedaços de pão sem manteiga que deverás esfarelar
no canto direito da varanda, juntamente com este bilhete que aqui te deixo. De
outra forma, debicarão todas as plantas e o teu trabalho terá sido em vão.
É
neste momento que deves colocar um solo de saxofone, talvez piano ao fundo como
desejares e lembra-te de mim. Não te apresses, o verão ainda agora começou.
Rega-me
as flores por favor e deixa a chave a contar pingos de água.
Domingos? Praia, nunca!... :-)
Poesia? Arte? Todos os dias.
Bom fim de semana, Manelinha :-)
Lindo.Poesia por todo lado :-)
Lindão, Manuela :-)
... e julho chegou :-)