Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Dizem do rei, que era bom e justo e vaidoso também.
Guardava na cisterna uma chave de prata que abria a porta da torre cimeira,
aquela mais alta, tocadora das nuvens baixas, que parecem correr dos pés em
direção à cabeça, quando deitados na relva a olhar para o céu e ainda é verão.
Junto das muralhas feiravam os vendedores de serpentes,
de falcões, de animais peçonhentos e ervas daninhas e outras menos danosas com
as quais se faziam chás e benziam as crianças por nascer, pois muitos, de uma
ignorância extrema, imaginavam as mulheres possuídas de um mal maior, como
sendo sapos ou um bicho papão.
No pátio cresciam laranjeiras, os frutos eram doces e o
sumo era tanto e tão bom.
Por esta altura, já uma pedra tinha caído da muralha do
castelo e duas outras da base da torre cimeira, mas ninguém dera conta. E o
rei, que escondia na torre um pássaro raro que ele queria só para si,
distraía-se dos vendedores, dos sapos e das laranjeiras e vivia absorto e
diziam que era bom.
Noutras terras distantes, os inimigos do rei invejosos de
pássaros raros e de laranjas doces, armaram-se até aos dentes, com paciência e
precisão. Levaram anos a fazê-lo e fizeram-no devagar. Muniram-se de
intolerância, de ostentação e de arrogância.
Quando caiu a vigésima pedra da torre cimeira, a abóbada
cedeu dois centímetros e o pássaro livre voou.
aqui, não faço nenhum poema, mas já deixei dois improvisos no Mar ao Fundo. Nada mais belo do que os poemas de domingo, de verão, de sol de setembro :-)
impromptus
de linha fina