Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Dedicado à manuela baPtista, com desenho da mesma e à la manière de, quando alguns dias se tornam outonalmente mais longos
Dizia que abria a porta do mesmo modo para acordar a forma inteira do dia. O sol vinha primeiro, por detrás das nuvens, quando as havia, mas o que ela procurava era a luz do mar mais certa. Por todo o jardim, as flores tardias fingiam esquecer o outono e era essa segurança que ela mais buscava, porque a idade não queria pousar na cor dos bens maiores.
À entrada, um chá volteava no vapor da coluna de água quente. Era o tempo de lhe deitar a mão e sentar, porque os chás não são como aquelas manhãs e esfriam, e puxou o casaco por entre o esvoaçar dos pássaros das caminhadas migrantes.
Todos os terraços são esparsos para a beleza de tantos dias. Ao longe, só a rebentação lhe lembrava as noites em que a memória a invadia, bicho mau dos sonhos todos, mas a aurora devolvia-lhe a lista inteira dos seus sorrisos: afinal, todos tinham morrido novos e havia um secreto esconjuro da idade, como a avó tantas vezes o repetira.
Um dia sentar-te-ás à cabeceira, e lerás o livro mais longo da tua vida.
Ela adorava enigmas, sobretudo os do silêncio, que vêm "lentos e a passo de caracol", mas nos contam sempre a mesma história, secreta e esvoaçante.
Lá dentro, pareceu ouvir a voz da avó que chamava. Tinha aquele timbre da beleza eterna e o ritmo juvenil da lira pura.
E ela entrou.
O livro que tinha na mão caiu e nem um barulho fez, mas isso era próprio daqueles dias curtos, feridos da sua própria magia: e era o segredo simples de que passavam mais rápidos, e nem o chá, subitamente parado, parecia querer acompanhar agora a brisa fria.
Há certos mails a que não podemos responder, aliás, podemos, mas só com a resposta certa :-)
E evidentemente que o título devia ser corrigido, para "litania para alongar a inspiração do dia", mas fica assim, só para provocar, ui, ui, vamos lá a mexer essas mãos... :-)
ui,,,
há chás onde navegam as folhas de um livro, pode ser longo, inscrito, ou aquele que de tanto ler já sabemos de cor e é sempre o mais belo
litania para provocar os habitantes secretos de cada dedo e de cada dia
:))
tome lá um abraço, Luís!