Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Querida Lola:
Sou uma cinéfila, enfim, tento ser, que o Cinema anda pela hora da morte, e estou muito preocupada, por que há tão pouco que o maior cineaste de sempre, o NOSSO Manoel de Oliveira partiu, e já não se "houve" sequer falar dele. Será alguma censura dos órgãos de comunicação social?..."
Maria Adelaide Viana da Motta
Querida Milai:
Como pode imaginar, Manoel de Oliveira não é propriamente o tema que mais interesse a uma esquina de travecas, como a nossa, mas posso imaginar, pela tensão que se encontra nas entrelinhas do seu apelo, que seja sincero. Eu sei que, para pessoas que foram treinadas para acreditar que o Manoel de Oliveira existia, seja muito estranho que ele agora tenha desaparecido em meia dúzia de meses, quando se devia andar a ganir, pelos cantos, por ele, como faz a Viuvinha de Lanzarote, até que lhe doa a voz, e vai doer muito, até que se cale, e até que se cale, todos os dias muito se "houve" ela. Sabe que assim transitam as glórias do mundo, e não há qualquer censura dos órgãos de comunicação, já que o Manoel -- não se importa com que eu o trate assim, pois não?... -- se autocensurava. 106 anos, a punir-nos com a sua autocensura estética, filha. Toda a gente cumpriu o seu dever, de faz de conta, enquanto vivo, -- coitadinho, também precisava -- e a História faz hoje o seu papel, depois de morto. Mas vamos ao que interessa, já que a menina se diz cinéfila. Eu acho que, no fundo, também sou cinéfila, e muito. Pelo menos, adoro enredos, fazer teatradas e pôr os machos convencidos de que subiram ao palco do mundo, quando apenas estou a tentar que me montem, coisa que, como sabe, vai rareando, ao contrário da posição inversa... Agora, quanto à Sétima Arte, tirando os dias em que eles me levam para a fila do fundo das salas do Amoreiras, para fazer porcarias, enquanto as meninas comem pipocas e mexem nas braguilhas dos seus rastas, confesso que o que adoro mesmo são os vídeos da Sheilinha. Há mais Cinema num vídeo da Sheilinha do que em todos os filmes do Oliveira. Ela é puramente G_e_n_i_a_l, e, ao contrário do Manoel, que começou com o "Aniki Bobó" e imediatamente estagnou por aí, sendo tudo o resto uma longa agonia de mais de 100 anos, a Sheilinha tem um percurso estético muito bem balizado, pensado e conseguido, e também, curiosamente, com o bobó como grande leitmotiv. Ela é uma espécie de Grados ad Parnassum, cheio de modéstia e discrição, como compete a todas as mentes brilhantes de todos os tempos. Quem sou eu para lhe dar aulas de Cinema e de bom gosto, mas já que me escreveu, a Maria de Belém que eu tenho dentro de mim, pequenina, mas generosa, pede que lhe responda: e é assim, meu amor, a fase "Aniki-Bobó" da Sheilinha, vendo calmamente as coisas, deve começar com o seu célebre "Puto Futebolista", uma curtíssima metragem de 1' 20'', que, com escassíssimos recursos, consegue fazer reviver a densidade neorrealista de um fim de dia atrás do esférico. Uns vão para o balneário, a Sheilinha aproveitou para rodar uma obra prima, câmara estática, uma perspetiva de alçado, feita em mira fixa e com plano médio, apenas com o seu profundo e suspirado "o meu futebolista...", em que há mais poesia e naturalismo do quem em todo o Cesário Verde. Muitas vezes me pergunto, seria a Eunice Muñoz capaz de transmitir, melhor do que a Sheilinha, aquela colocação e projeção de voz?... Veja atentamente, e repare na qualidade dos cenários, dos adereços, do salto alto chinês, da liga, da meia de vidro rasgada, a evocar a "Grande Depressão", o maneirismo da média luz, da captação de som, que em nada se parece com a locução dentro de caixa de sapatos, nem com aquele grasnado falso e teatral, das múmias estáticas e ganzadas, dos filmes do Manoel. É um dos primeiros grandes papéis da nossa Sheilinha, e muito próximo do "Puto de Oeiras", outra obra prima, todo filmado à rebours, começando na leitada, e só depois recriando a esfrega que a ela conduziu, tudo em puro plongé, grandes planos, os diálogos reduzidos ao indispensável, ao "abre...", ao "castiga-me...", e um calor tão somente assegurado pelos dois intensos minutos de gemidos. Toda a inquietação da passagem da juventude à idade adulta, condensada numa mão cheia de magníficos segundos de bom cinema, é isso, e só isso. Na fase seguinte, a Sheilinha faz a sua primeira incursão pelo filme histórico. É a altura do "Pantera", uma vivida homenagem a Eusébio e ao mangalho de Barrancos, que depois virá a repetir, em "Mamada com o meu bonzão negro", e a de "Ricardão", que muitos consideram ser a sua "Salomé", dada a omnipresença da encantadora "Dança dos Sete Véus", com que a obra prima começa, e o seu São João Batista, que lhe mete a cabecinha do dedo, e acaba a enfiar a cabeçorra do caralho. Não há diálogo que ali não seja cuidado, e eu até quase que podia assegurar que lá está a mão e a visão premonitória de grandes vultos, como Agustina Bessa-Luís, Vasco Graça Moura e José Rodrigues dos Santos. Mas, na verdade, quem será o autor dos maravilhosos "Miau...", que vão pontuando todos os grandes planos que asseguram o enredo, e que a Sheilinha maravilhosamente incarna?... Há uma preocupação ecológica e de reaproveitamento de recursos: o seguinte penetra-a utilizando sempre o lubrificante do anterior. Já o "Sr. Doutor deu-me leite", querida, contornando todos os academismos e voltando a apostar num tirado polo natural, é um retorno à narrativa tradicional, que antecede a passagem às grandes produções, como "Foda à noite, em Coimbra", em que os valores do campo e da atmosfera noturna triunfam sobre a intensa voragem de interiores que a precedeu. É a sua fase Monet. Como no Período Barroco, a Sheilinha dirige os seus gloriosos concertos brandeburgueses a partir do cravo, e é simultaneamente realizadora e atriz, quando não está a levar atrás. Quer mais economia?... Quer mais precisão de estilo?... É o próprio Princípio de Maupertuis, a dizer que se pode chegar a grandes resultados com a maior economia de meios!... Presentemente, minha fofa, a Sheilinha inspira-se diretamente nos grandes clássicos, e no estar diariamente a recriar a sua "Olympia" nas molduras de espelhos das Folies Bergères. É o período atual, das crossdresser que se comem umas às outras, e parece indiciar um período intimista, muito mais autobiográfico, de uma grande carreira, que só agora começou. Outros dizem que caminhará para as épicas, a dois, a três, ou a mais, como Kurosawa, ou avançará para Shakespeare, mas... mas... who cares?... Eu sei que deve estar avidamente a ver todos os filmes que lhe recomendei, e acabará por me dar razão: neste poucos minutos da Sheilinha há, ou não haverá, muito mais arte e profundidade do que nos quilómetros de película queimada do Manoel?... Se isto não é Cinema, então, por onde andará o nosso Cinema?... Precisou de alguns subsídios do Estado, para produzir obra prima atrás de obra prima?... Não!... Quer que seja sincera?... Ela é o nosso Eisentein, sim, o nosso Eisenstein, a inspiração de todas as crosdresser deste país!... Deleite-se com o que é bom, por que, por melhor que agora se ande a anunciar por aí o "Montanha", de João Salaviza, tenho um dedinho que me diz que ainda acabarão os dois, o Salaviza e a Sheilinha, a rodar uma mega produção, que o Cinema Português bem anda há muito tempo a precisar dela, pois anda. E por aqui ficamos. Um kisse nessa xôxa, meu amor, e espero que tenha ficado saciada.
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. (.um.santo.domingo.é.no.braganza.) .
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A Sheilinha é grandiosa, única, e uma inigualável fonte de inspiração.
E tudo rodeado no nosso fabuloso Bollywood :-))))
Eles a filmarem a Sheilinha e as suburbanas deles, em casa, a grelharem o hamburguer do Lidl e a olharem para o relógio,
tadinhas :-)))))))))))))))))))))))))
A melhor parte é mesmo a que não aparece nos filmes, da troncha em casa, à espera. Grande "Toda a Verdade" da SIC que isso dava :-)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
PODEROSA!!!...
ARRASOU!!!!....
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Todas concorrentes da Maria Vacarrona, no mamar :-)
Divertido, mas, no fim, há um sistema totalitário, nas sua fase dionisíaca