Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Sobre a calçada pisavam os pés descalços da filha de um rei. Não vos corteis princesa nas agulhas dos pinheiros, não vos piqueis senhora nas formigas dos carreiros.
Sobre a calçada pisavam os pés descalços da filha de um rei. Não vos corteis princesa nas agulhas dos pinheiros, não vos piqueis senhora nas formigas dos carreiros.
Se me cortar que importa, se me picar que faz, eu sou a
filha de um rei. Falaram-lhe de uma outra, delicada como um junco, que acordada
ficava toda a noite a juntar ervilhas debaixo do colchão. De manhã escalfava
ovos e molhava pedacinhos de pão torrado na gema quase líquida e todos
confirmavam, esta sim é uma princesa real.
E ria-se a filha do rei.
Ofereceram-lhe sapatos forrados a ouro e prata, bordados
a linhas de seda, de salto, sem salto, com laços, sem laços e até de papel. Ela
dobrava o riso e prendia nas orelhas uma flor azul.
De cada canto do reino enviaram-lhe brincos de pérolas e
de diamantes e escreviam, princesa, aceite este destino que deus não lhe deu.
Por decreto ordenaram que as princesas de todos os reinos
tinham este dever de se calçarem, de sorrirem em silêncio, de se abrilhantarem
e de juntarem ervilhas verdes debaixo do colchão. Ela não.
E riu-se a filha do rei.