Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Um dia guardei uma história
antiga na barriga de um peixe. Primeiro abri-o com uma faca afiada, aquietei-o
com uma litania de estrelas, ouriços, búzios do mar. Acomodei as palavras, urdi
a trama nas frágeis cartilagens, disse-lhe, não tenhas medo.
Depois cosi-lhe as entranhas
com uma linha de seda, bem fechado o peixe, avaro o que protege. Amarou então.
E eu marquei na memória a sua forma, a sua cor, o jeito acrobático das mudanças
de corrente, o rodopiar excêntrico. Não sei para quê. Os peixes multiplicam-se,
assemelham-se, confundem os humanos. Este é especial pelo que esconde, não pelo
que demonstra.
Reconhecimento. Será ele a
reconhecer-me e eu não. Outro dia.