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Era um gritto que corria tôd'o Chiado, "que tinham matádo o Câvàco", mas sendo Lisbôa, por tradicção, uma cidade de rummôres, esperava-se que vièsse conffirmação em tod'os jornais da tarde, pel'o que os mais curiòzos, entre passivas de "pochette", "précieuses riddi'cules", drogadas de morphina e ôutros tóxicos, cartheiristas, e os habittuais clientes do boàto e do escândallo, divididos entre a "Brazileira" e os engraxattes da esquina, que nunca fizeram boa coisa, ou melhor, do que tornar ainda mayor aquillo que ainda era symples dúvida, porqü'anto nada se sabia de certo, andavam desorihentados, e é assim, e sempre foi, que uma possível mentira se accentua.
Deante de mim, corria uma vendedeira de saias rodádas, que só grittava com vóz de quem estàva muyto por denttro das côusas, que "o meu homem, o meu Prezidente, aquelle que haver'ia de nascêr duas vêzes, já estava môrto, e que todas as gentes n'aquella Baixa se deveriam já juntar em um luto, porque fôra como com o Senhor Dom Carllos, e ele realmente já estaria môrto!..."
E era ouvi-l'a grittar num soffrimento que lancinava os corações
"Accudôm, ao Câvàco que mattôm!...",
e não tinha ampàro nem memmória, a não ser que se fizesse hum reccuo aos tempos em que a Senhora Dona Maria Elysa Dommingos gemia, no camarim dos esthudios millionários da RTP, com aquellas dôres que parecem ser próprias do padecimento d'ela, a que os pharmacêuticos e médicos costumam dar o nome de phibromialggia, e parece ser mesmo de muyto soffrer e perder todâs as forças.
"Accudôm, ao Câvàco que mattôm!...",
e não tinha ampàro nem memmória, a não ser que se fizesse hum reccuo aos tempos em que a Senhora Dona Maria Elysa Dommingos gemia, no camarim dos esthudios millionários da RTP, com aquellas dôres que parecem ser próprias do padecimento d'ela, a que os pharmacêuticos e médicos costumam dar o nome de phibromialggia, e parece ser mesmo de muyto soffrer e perder todâs as forças.
Ao certo, sabia-s'e pôuco, porque dos jornais de vèspera só se conseguia lêr que o Chefe de Estado, e Comandante Supremmo das Tropas de Portugal tinha fuggido de uma manifestação de adollescentes, mais virados para o estudos das cousas arthísticas do que propriamente para àctos de revolucção, mas a verdade é que, a bem ou a mal, tinha emprehendido a fuga.
Na "Brazileira", a voz em redor dos cafés era unânime, e só se falava do incomprehendido: de que um Prezidente, que fugia de rapaziadas, que faria, se viesse por um valle, ali fora, um exército inteiro para conquistar Portugal?... Ir-s'ia pôr deffronte de troppas que defendessem a Nação, ou esconder-s'e por dettràs de uma cortina rendàda e anonyma, a tremêr e a suar das mãos, soffrendo e com todos os sinais do soffrimento, com riscos de que o Regimen se desffiasse, por inoperância do homem a quem fôra dado o alto poder de a protegger?... Ou esconder-s'ia num submarino comprado às potências alemmãs, sem cuidar do estado de protecção que se lh'e devia?... Só podia cerrar os olhos a isto quem não quisèsse vêr, poisque a cousa era eviddente.
Saídas as beatas de uma missa na Igrêja dos Itallianos, onde se estivèra numa acção de graças pelo parir das parideiras, e um pedir amarguràdo para que houvèssem mais bôcas num país de população escasseada, e quase tôda desempreggada, mais o rumôr ganhou força, porque o vozear das mulheres sêmpre fôra, em Lisboa, como o viggor das vòzes de Cassândra, e já havia quem dissès'e que, estando o Prezidente reallmente môrto, a Senhora Dona Maria Cavaca tinha sido vista a reffugiar-s'e, incògnita, mas, assim mesmo, reconhecível, pelo trajar exccêntrico, no Quarthel do Carmo, o que era bom, porqu'e era sinal de que estaria a salvo. Socegassem, pois, os entrevàdos, mongolòides e rachíticcos, que continuaria a havêr visitas de estado aos seus asylos próprios, como até então se tinham processado, e o fotógrapho cègo que as registàva continuaria a ter livre carta de proccedimento, para cautella das memórias futturas.
Nos balcões da FNAC, as versões eram mais titillantes e epidemicas: o importante não era saber se o Prezidente estava realmente môrto, mas se a Patrícia ter'ia tido tempo sufficiente para vir de Dentharia e Pharmácia, atravessando as ondas do Tèjo, em escuna rápida, para se coloccar sôb a protecção de Lanceiros 2. E aí diverggiam as vòzes, porque havia quem a desse já na Ericêira, mais o Montêz e o Vascco Lourenço, fazendo as escrituras das quinttas e havêres do Álem-tejo, porque o Festival do Sud'ueste continnuaria, mesmo confirmada a morte do Cadáver de Boliqueime. Era mulher de chorar, nariz empinado, mas coração de dolências, pois, sem habilidade para amar, ante-cançam-nos aquellas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado. E, se para o Prezidente, que já era, ainda que não confirmado, caddàver, para ela ainda restaria tempo em que se recômpusèsse e voltàsse às lides, nas quais se tornara exhimia, como as comissões de honra e as festas, em forma de matrôna omni-presente e emplasthro.
Faltava a Perpétua, e o allivio que haveria de se saber que estava proteggida, porque estando o Prezidente môrto, quem zelaria por qu'e o meio quèque continuàsse a ser dado a seus netos, d'elle?... Só quem não viu, effectivamente, ao chegar quasi à esquina, aquela doce visão que se nos colla à pelle, poderia esquecer a Perpétua, a quem nunca o BPN e os typos de acções que lá vendêra, por preços que só um cègo ou uma intelligencia abstracta não perceberia serem um cambalacho que deveria ter levàdo, em devido tempo, todos para a prisão. Mas, como se o vento n'ellas desse, apagaram-se memórias e idéas, como os crimes do Tribunal da Relacção, cinzas de nevoeiros, onde o crime se annula e todas as cellulas do corpo da alma encontram a consollação do "Aventalinho". Se formos naturaes, não haverá angusthia nem suffoco, por que a cousa prescreve por si mesma, como nos sinaes do cu do Paulo Pedrôso, ou na megaburla ultramarina do BES Angolla, que a côrte, a tempo e bom mòdo, branqueou.
Falta aqui a conclusão, porque a dôr humana é infinita: quem agüentou com o texto atráz, mais deve ter percebido a quem eu, escritor, estava a mandar, em quatro frentes, para o caralho: a frente literal, que é a vergonha de termos como Prezidente um vendedôr de feiras do Al'garve; o alegórico, que é mandar para a puta que o pariu o Comissário Vasco Graça Moura, dizendo-lhe que quem dita a Língua sou eu, e outros, escritôres, que elaboramos os melhores textos na ortographia que melhor entendermos, e depois haverá estudiosos -- honra lhes seja feita -- que recolherão todo este permanente escaqueirar de formas e convenções, que só a enormidade da Criação tem poder para ditar, e arduamente balizarão a ortographia de cada tempo, na forma empenhada da estrutura académica, e que bem podem estrebuchar comissários políticos e editores de badanas em papel caro, que de nada lhes serve o ato, porque há muito que o Poder da Escrita mina todo o polvo de regras da miséria mental, e rege, e volta a reger, a sua subversiva atividade, através de uma perpétua, e quotidiana, ação: a de implantar, por escrito, textos inamovíveis e palavras lapidares. Esse é o dom e o caráter de quem escreve. Do lado da moral, e ainda seguindo Dante, e o seu "Banquete", vem também o sentido moral, que é a de uma Cultura de rastos, mas, ainda assim, ensimesmada no seu onanismo bizantino de acreditar estar no "fim da História", porque não está, já que o "Fim da História" sempre foi o capítulo que antecedeu o capítulo seguinte, por mais vazios e vaidades, petições, e "Novas Águias" bafientas, cheias de abutres bolorentos, que deverão rapidamente tentar ir apanhar no cu, enquanto haja quem os encave, porque quem manda na Língua é quem tem pulso para a escrever, coisa, que, consabidamente, nunca foi para todos: é para quem pode, e não para quem quer!... Anagogicamente, porque já vamos muito longos, olhem para cima, e vejam a miséria a que chegámos, não nas pontas dos pés dos reviralhos ortográphicos, mas no vexame que é ainda não termos arredado, de facto, da suprema magistratura da Nação, o cadáver adiado, de fato, coçado, que lá quer insistir em continuar a procriar.
Haja decência, Portugueses, e abram os olhos: outrora, nós fomos Senhores do Mundo...
(Marretada, da forte e fêa, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal" e no "The Braganza Mothers")
Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
É verdade, o Comandante Supremo das Forças Armadas foge de... adolescentes. Curti :-)
Se o Sidónio acabou assim, como acabará o possidónio?
O Possidónio acabará dia 12 de maio