sábado, 18 de fevereiro de 2012

Accudam, que mattàram o Câvàco!...

Imagem do Khaos

Era um gritto que corria tôd'o  Chiado, "que tinham matádo o Câvàco", mas sendo Lisbôa, por tradicção, uma cidade de rummôres, esperava-se que vièsse conffirmação em tod'os jornais da tarde, pel'o que os mais curiòzos, entre passivas de "pochette", "précieuses riddi'cules", drogadas de morphina e ôutros tóxicos, cartheiristas, e os habittuais clientes do boàto e do escândallo, divididos entre a "Brazileira" e os engraxattes da esquina, que nunca fizeram boa coisa, ou melhor, do que tornar ainda mayor aquillo que ainda era symples dúvida, porqü'anto nada se sabia de certo, andavam desorihentados, e é assim, e sempre foi, que uma possível mentira se accentua.

E era ouvi-l'a grittar num soffrimento que lancinava os corações
"Accudôm, ao Câvàco que mattôm!...",
e não tinha ampàro nem memmória, a não ser que se fizesse hum reccuo aos tempos em que a Senhora Dona Maria Elysa Dommingos gemia, no camarim dos esthudios millionários da RTP, com aquellas dôres que parecem ser próprias do padecimento d'ela, a que os pharmacêuticos e médicos costumam dar o nome de phibromialggia, e parece ser mesmo de muyto soffrer e perder todâs as forças.


Ao certo, sabia-s'e pôuco, porque dos jornais de vèspera só se conseguia lêr que o Chefe de Estado, e Comandante Supremmo das Tropas de Portugal tinha fuggido de uma manifestação de adollescentes, mais virados para o estudos das cousas arthísticas do que propriamente para àctos de revolucção, mas a verdade é que, a bem ou a mal, tinha emprehendido a fuga.

Na "Brazileira", a voz em redor dos cafés era unânime, e só se falava do incomprehendido: de que um Prezidente, que fugia de rapaziadas, que faria, se viesse por um valle, ali fora, um exército inteiro para conquistar Portugal?... Ir-s'ia pôr deffronte de troppas que defendessem a Nação, ou esconder-s'e por dettràs de uma cortina rendàda e anonyma, a tremêr e a suar das mãos, soffrendo e com todos os sinais do soffrimento, com riscos de que o Regimen se desffiasse, por inoperância do homem a quem fôra dado o alto poder de a protegger?... Ou esconder-s'ia num submarino comprado às potências alemmãs, sem cuidar do estado de protecção que se lh'e devia?... Só podia cerrar os olhos a isto quem não quisèsse vêr, poisque a cousa era eviddente.

Saídas as beatas de uma missa na Igrêja dos Itallianos, onde se estivèra numa acção de graças pelo parir das parideiras, e um pedir amarguràdo para que houvèssem mais bôcas num país de população escasseada, e quase tôda desempreggada, mais o rumôr ganhou força, porque o vozear das mulheres sêmpre fôra, em Lisboa, como o viggor das vòzes de Cassândra, e já havia quem dissès'e que, estando o Prezidente reallmente môrto, a Senhora Dona Maria Cavaca tinha sido vista a reffugiar-s'e, incògnita, mas, assim mesmo, reconhecível, pelo trajar exccêntrico, no Quarthel do Carmo, o que era bom, porqu'e era sinal de que estaria a salvo. Socegassem, pois, os entrevàdos, mongolòides e rachíticcos, que continuaria a havêr visitas de estado aos seus asylos próprios, como até então se tinham processado, e o fotógrapho cègo que as registàva continuaria a ter livre carta de proccedimento, para cautella das memórias futturas.

Nos balcões da FNAC, as versões eram mais titillantes e epidemicas: o importante não era saber se o Prezidente estava realmente môrto, mas se a Patrícia ter'ia tido tempo sufficiente para vir de Dentharia e Pharmácia, atravessando as ondas do Tèjo, em escuna rápida, para se coloccar sôb a protecção de Lanceiros 2. E aí diverggiam as vòzes, porque havia quem a desse já na Ericêira, mais o Montêz e o Vascco Lourenço, fazendo as escrituras das quinttas e havêres do Álem-tejo, porque o Festival do Sud'ueste continnuaria, mesmo confirmada a morte do Cadáver de Boliqueime. Era mulher de chorar, nariz empinado, mas coração de dolências, pois, sem habilidade para amar, ante-cançam-nos aquellas palavras que seria preciso dizer para se tornar amado. E, se para o Prezidente, que já era, ainda que não confirmado, caddàver, para ela ainda restaria tempo em que se recômpusèsse e voltàsse às lides, nas quais se tornara exhimia, como as comissões de honra e as festas, em forma de matrôna omni-presente e emplasthro.

Faltava a Perpétua, e o allivio que haveria de se saber que estava proteggida, porque estando o Prezidente môrto, quem zelaria por qu'e o meio quèque continuàsse a ser dado a seus netos, d'elle?... Só quem não viu, effectivamente, ao chegar quasi à esquina, aquela doce visão que se nos colla à pelle, poderia esquecer a Perpétua, a quem nunca o BPN e os typos de acções que lá vendêra, por preços que só um cègo ou uma intelligencia abstracta não perceberia serem um cambalacho que deveria ter levàdo, em devido tempo, todos para a prisão. Mas, como se o vento n'ellas desse, apagaram-se memórias e idéas, como os crimes do Tribunal da Relacção, cinzas de nevoeiros, onde o crime se annula e todas as cellulas do corpo da alma encontram a consollação do "Aventalinho". Se formos naturaes, não haverá angusthia nem suffoco, por que a cousa prescreve por si mesma, como nos sinaes do cu do Paulo Pedrôso, ou na megaburla ultramarina do BES Angolla, que a côrte, a tempo e bom mòdo, branqueou.

Falta aqui a conclusão, porque a dôr humana é infinita: quem agüentou com o texto atráz, mais deve ter percebido a quem eu, escritor, estava a mandar, em quatro frentes, para o caralho: a frente literal, que é a vergonha de termos como Prezidente um vendedôr de feiras do Al'garve; o alegórico, que é mandar para a puta que o pariu o Comissário Vasco Graça Moura, dizendo-lhe que quem dita a Língua sou eu, e outros, escritôres, que elaboramos os melhores textos na ortographia que melhor entendermos, e depois haverá estudiosos -- honra lhes seja feita -- que recolherão todo este permanente escaqueirar de formas e convenções, que só a enormidade da Criação tem poder para ditar, e arduamente balizarão a ortographia de cada tempo, na forma empenhada da estrutura académica, e que bem podem estrebuchar comissários políticos e editores de badanas em papel caro, que de nada lhes serve o ato, porque há muito que o Poder da Escrita mina todo o polvo de regras da miséria mental, e rege, e volta a reger, a sua subversiva atividade, através de uma perpétua, e quotidiana, ação: a de implantar, por escrito, textos inamovíveis e palavras lapidares. Esse é o dom e o caráter de quem escreve. Do lado da moral, e ainda seguindo Dante, e o seu "Banquete", vem também o sentido moral, que é a de uma Cultura de rastos, mas, ainda assim, ensimesmada no seu onanismo bizantino de acreditar estar no "fim da História", porque não está, já que o "Fim da História" sempre foi o capítulo que antecedeu o capítulo seguinte, por mais vazios e vaidades, petições, e "Novas Águias" bafientas, cheias de abutres bolorentos, que deverão rapidamente tentar ir apanhar no cu, enquanto haja quem os encave, porque quem manda na Língua é quem tem pulso para a escrever, coisa, que, consabidamente, nunca foi para todos: é para quem pode, e não para quem quer!... Anagogicamente, porque já vamos muito longos, olhem para cima, e vejam a miséria a que chegámos, não nas pontas dos pés dos reviralhos ortográphicos, mas no vexame que é ainda não termos arredado, de facto, da suprema magistratura da Nação, o cadáver adiado, de fato, coçado, que lá quer insistir em continuar a procriar.
Haja decência, Portugueses, e abram os olhos: outrora, nós fomos Senhores do Mundo...

(Marretada, da forte e fêa, no "Arrebenta-SOL", no "Democracia em Portugal" e no "The Braganza Mothers")


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas

3 Responses so far.

  1. É verdade, o Comandante Supremo das Forças Armadas foge de... adolescentes. Curti :-)

  2. Se o Sidónio acabou assim, como acabará o possidónio?

  3. O Possidónio acabará dia 12 de maio

 
 

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