domingo, 27 de janeiro de 2013

monção

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas



É o meu coração que vai por ali assustado. E colocou a noz-moscada no parapeito da janela no exato ponto onde há muito tempo tinha desenhado um círculo. Fez uma pausa, contou até três e de repente largou a janela de guilhotina. De um só golpe desfez-se em pó. Um cheiro a almíscar espalhou-se pela sala. Os vidros aguentaram.
Um dia trocara o coração por uma noz, mais dura, mais fria, distanciada. Quando saltava, ouvia-se clac, clac, clac e ficava com soluços. Se era preciso temperar o caril, bastava sentir a ausência de coração na boca e ranger os dentes. Quem se rala deixa sempre cair alguma coisa.
Lá fora a moscadeira crescia e a chuva começou a engrossar. Entre a berma e a estrada formaram-se regos de água arrastando folhas, insetos, sementes e um ou outro peixe mais pequeno. Assim como veio, parou. Os sapos encheram-se de ar e alguns subiram até à copa das árvores confundindo-se o canto dos pássaros e o coaxar das rãs. Outrora sentiria um arrepio de prazer pelo céu a descobrir azuis e verdes, pela paz depois da tempestade, mas a noz não sentia nada. Pensou então engoli-la inteira com meio copo de sumo de laranja e depois esperar a alucinação dos olhos e dos ouvidos, os braços e as pernas a tremer e perguntarem-lhe, o que foi? e ela não saber, o que foi? não sei quem sou.
Levei o coração ao cais e passei os dedos pelos bordos de uma cicatriz. Veio uma semente engoliu-o.
O esquecimento é um ato premeditado, esquecemo-nos de abrir a boca porque não queremos falar, de sair do comboio quando desejamos continuar viagem. Ela esqueceu-se do que tinha dentro do peito, mas o coração lembrou-se do caminho de volta. Seduziu a semente e a folha, vagamundeou numa ausência de exclamações e interrogações, abominou as reticências, entrou pela janela de guilhotina. O círculo fechou-se.
Nessa noite os elefantes aprenderam o caminho do mar e vieram tomar banho à praia

2 Responses so far.

  1. .

    .

    . é uma dádiva de todos os deuses . a presença da [nossa] manuela baPtista . aqui . todos os domingos .

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    . não há palavras suficientes para Lhe agradecer . não há . nem pode haver .

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