domingo, 21 de abril de 2013

conto antigo e os códigos de linguagem dos pássaros

Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas


Aprisionou-o irrefletidamente logo após o primeiro gorjeio do anoitecer e lançou para o ar frio e húmido a linguagem dissuasora de ramos e telhas. Os outros assustaram-se, confundidos pela razão das penas, sem vontade de brigas e gritos.
O homem não soube o que dizer, deixou-se ficar, as pernas pendentes, um ligeiro arrepio, que estupidez, disse, porque é que não vesti uma camisola de gola alta, agora não adianta, altitude é coisa que não me falta e sentiu-se marear.
O pássaro ouviu-o e aproximou-se saltitando, telha sim, telha não, numa equidistância espontânea lança-lhe uma baga encarnada, redonda, brilhante, e mais outra ainda, desafia-o ao reconhecimento do jogo, não teme, conduz. O homem deixa-se conduzir, não sabe o que fazer, nunca foi prisioneiro de um pássaro.
A negritude das penas confunde-se com o escuro da noite, o bico laranja abre-se provocador e ensina ao ser sem asas o grito agudo do medo da rapina das aves, o miar do gato gordo e mimado, o assobio desvairado do ciúme, o agressivo da guerra.
Criadores de códigos, partilham as árvores e os telhados, o calor do sol, a água da chuva, a lama, os ninhos e as penas. O pássaro é fiel, o homem nem sempre.
Os olhos do pássaro fixam os olhos do homem e ele sente-se bem ali, longe do ruído dos dias, da solidão do micro ondas, dos talheres de plástico dos centros comerciais, do som das chávenas quando chocam com as torradas.
A noite cheira a laranjas desfiadas, a um colar de bagas encarnadas para enfeitar um pescoço delgado.
E o homem entende a diferença do pássaro e não ousa perguntar porque me prendeste. Ou fui eu que me deixei prender. Os melros riram da sua ingenuidade.

3 Responses so far.

  1. .

    .

    . da noite . ainda trago o odor das laranjas desfiadas . daquelas que jamais apodrecem . e entoam o hino de todos os simbolismos . onde as bagas são por agora rainhas . e para sempre . tão vossas e também tão minhas .

    .

    . manuela baPtista . grato pelo tributo . aqui . ali . e acolá . onde unos somos tantos . e para sempre .

    .

    .

  2. porque nada tem de podre o nosso reino


    grata, eu

    mbP

    :))





  3. A Poesia e a Pintura são como aquele belíssimo título de uma cantata de Telemann, "Nach Finsternis und Todesschatten": o sol do meio dia e o infinito rumor do mar

    E,para ler: "Dialogue des Oiseaux", do sufi persa, Farid Al-Din Attar (1177), empre hermético, sempre poético :-)

    "Dialogue desoiseaux

 
 

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