Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Nas árvores do pátio cantavam pássaros mas aquele não. A
mulher juntava as linhas e as agulhas, desdobrava linhos e a ave por ali a
saltitar e ela estendeu um pano branco e ele ficou, a cabeça de lado, o bico
entreaberto e ela imaginou-o em ponto a cheio com linha de seda ou pé de flor.
Nessa madrugada cozinhou um pão de sementes de sésamo com
umas gramas de outras, de papoila, para cativar o pássaro. Foram muitos os que
sonharam com manteiga derretida tal o cheiro bom que o vento fez entrar pelas
frestas das portas e das janelas. O pássaro não se cativou. Esvoaçou duas ou
três vezes sobre o pano branco e as migalhas de pão e foi catar insetos nos
ramos do castanheiro.
Ela não desistiu e enquanto enfiava as agulhas e cortava as
linhas assobiava-lhe notas do fá ao si e terminava em sol. Respondia-lhe
o silêncio do pássaro e este não se deixava cativar.
Então ela pegou no pano branco de linho fino e sem
desenho nem papel foi bordando o pássaro. Separava e juntava as cores e as linhas
de seda macia ganhavam movimento e quando terminou, parecia tão vivo aquele ser
alinhado que alguns o cobiçaram e quiseram comprar. Ela recusou.
Ao entardecer, desdobrava o pano onde voava o pássaro de
seda e estendia-o no pátio. O pássaro silencioso chegava, volteava, saltitava à
sua volta.
Uma noite voaram os dois.
ao entardecer,
como se fosse uma linha de seda que se solta
.
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. ou . como se fora . :) . e desde que não fora renda . :) .
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Um lindíssimo conto, num dia aziago