Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Magnolia Charmer de Maggie Taylor
Magnolia Charmer de Maggie Taylor
Atravessava
as estradas de olhos fechados no confronto direto com o perigo, no desejo íntimo
e doloroso da colisão fatal, o esmagamento de todas as partículas para me
sentir senhor da vida ou da morte e afastar-me desta ladroagem que é o tempo.
Ter vinte anos é desafiar os monstros, tenham eles a forma que tiverem. A
verdade é que nada me tocou e escapei à minha própria loucura.
Foi
por esta altura que conheci o rapaz lua. Eu de um lado da estrada, os olhos a
fecharem-se-me de ausência e escuridão e naquele pestanejar indeciso vi-o, do
lado oposto. Fez-me um aceno e uma careta divertida. Mantive o olho direito
aberto e ele, novo sinal com as mãos a dizer-me, fica, não atravesses, eu vou
ter contigo. Ziguezagueou por ali fora e eu a olhar e ele a rir. Não foi assim
de repente, eu sou o rapaz lua e tu? Não. Ficámos os dois sentados à beira da
estrada e contámos os carros pretos que passavam e depois os metálicos e ao
vigésimo quinto carro verde ele disse, sei porque é que fechas os olhos para
atravessar os caminhos. E as mãos dele eram tão iguais às minhas. Foi aí que
nos levantámos e fomos embora.
Eu
estava certo de que a maioria das pessoas me acabaria um dia por desiludir, por
isso largava-as, soltava-as sem grande consciência nem pudor. Mas aquele homem semelhante
a mim não me fez perguntas e aparecia quando era desejado e saía antes da
garrafa de vinho se esgotar, dois ou três fios de esparguete no prato e era
como se eu me visse ao espelho nos melhores dos dias, a barba impecável, as
costas direitas, o nó da gravata no lugar. Às vezes também me seguia sem eu me
aperceber e deixava pistas inconfundíveis, copos de água fresca nas esquinas
dos móveis, pedras e conchas da praia em cima das mesas.
Depois
sem razão aparente, motivo, ordem ou justificação, recordei-me.
Deolinda
era a do meio. Acreditava na sazonalidade das marés e na sua íntima relação com
as fases da lua. Amava a terra e as ervilhas de cheiro e bordara a minha toalha
de batizado a ponto cruz. E quando me levaram ao colo e eu extasiado com as
cúpulas e os zimbórios da minha aldeia, vestido de saias, porque o pecado
original decreta os metros de pano que conduzem à inclusão, Deolinda falava-me
ao ouvido e eu sem saber que ouvia, ouvi, o rapaz lua que era eu, a ziguezaguear
risos nas travessias.
segunda voz: Deolinda
Desafiar os monstros sempre :-)
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. ben.dito outono que nos trouxe este regresso aos contos felizes . :) .
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Toma lá ou cãoreta para ti...
Felizes tempos felizes, para afastar o tempo fosco :-*