Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Estava ali numa esquina, apoiada na parede. Era bem mais alta do que ele, o pé escondido num saco de plástico atado com um cordel, alguns ramos despidos de folhas. Ele parou, olhou à sua volta e foi perguntando a quem passava, é sua? A maioria das pessoas nem respondia, outros diziam que não, apressados e cansados nesse fim de dia. E pensou, se não aparecer ninguém que a reclame dentro de quinze minutos, levo-a comigo. O tempo avançou devagar, aos quinze minutos iniciais acrescentou outros quinze. Ainda abordou um polícia e um taxista. O primeiro propôs-lhe redigirem um auto, o que ele recusou. Do taxista recebeu um resmungo, vai chatear outro, pá.
Estava ali numa esquina, apoiada na parede. Era bem mais alta do que ele, o pé escondido num saco de plástico atado com um cordel, alguns ramos despidos de folhas. Ele parou, olhou à sua volta e foi perguntando a quem passava, é sua? A maioria das pessoas nem respondia, outros diziam que não, apressados e cansados nesse fim de dia. E pensou, se não aparecer ninguém que a reclame dentro de quinze minutos, levo-a comigo. O tempo avançou devagar, aos quinze minutos iniciais acrescentou outros quinze. Ainda abordou um polícia e um taxista. O primeiro propôs-lhe redigirem um auto, o que ele recusou. Do taxista recebeu um resmungo, vai chatear outro, pá.
Estava decidido, pegou-lhe pelo tronco e levou-a para
casa. Plantou-a no terraço, num vaso três vezes maior e mais profundo que a
esfera da sua raiz. Regou-a de manhã bem cedo, falou-lhe baixinho de coisa
nenhuma, mas não lhe sabia o nome e ela calou-se no balancear suave do ramo
mais fino.
A árvore foi crescendo, dois centímetros apenas. Dos
ramos magros brotaram pequenas folhas verdes e tenras e os vizinhos subiam ao terraço
para verem a árvore que tinha sido abandonada numa esquina e sentavam-se com
ele e conversavam um pouco sobre os segredos da terra que não tinham. Quando o
tempo aqueceu surgiram as primeiras flores e mudavam de cor conforme a
inclinação solar e o alinhamento dos planetas.
Num sábado de manhã, chegou o pássaro. Pequenino,
acinzentado, vivaz. Esvoaçou à roda da árvore e num grito alegre posou num
ramo, depois fugiu. O homem gostava de pássaros, no entanto, temendo a
fragilidade das folhas novas e dos botões, esfarelou um pedaço de pão e
espalhou-o pelo chão. No domingo de manhã o pão tinha desaparecido e o homem
substitui-o por sementes e colocou ao lado um prato com água e esperou
silencioso e quieto. O pássaro aproximou-se, rasou-lhe a cabeça, brincou com as
sementes, comeu-as e equilibrando-se na borda do prato abriu as asas e cantou.
E as penas formaram um manto amarelo-torrado e o cinzento da ave era apenas uma
ilusória condição.
O homem desconhecia a identidade do pássaro, mas
falou-lhe como se ele fora árvore, de tudo e coisa nenhuma. E numa tarde quente
comeram cerejas os dois.
Tão lindo e,,, quase a "aniversariar" 😆
outra ave virá :)
Belas as flores e as palavras.
Nesta tarde,
antes da primavera,
a Juniperus, que tanto viajou, encontrou a sua nova casa no vaso de cor de couro polido de Tokoname, obra de Keizan, o Sr. Shizou ,
e assim receberá a primavera