Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Gosta do silêncio da floresta, dos atapetados carreiros
de folhas, um verde seco a acastanhar-se em nervuras, pecíolos e limbos, do
musgo a crescer na casca das árvores. Os raios de sol obliquam-se ao entardecer
e ele ganha coragem, solta-se do bloco de notas onde plasmava há alguns dias à
espera de bigodes. Tardava.
Estica as patas traseiras e num salto sai pela janela
aberta, ou pela porta, ou pelos buracos não identificados que todas as casas
possuem sem o saberem e por onde deslizam os pensamentos noturnos, os suspiros
e as interjeições.
Eu não dou por nada. A minha cabeça pousa no braço
esquerdo e este na mesa e a mesa no chão e eu adormeço cansada a largar riscos
de tinta e a desejar um conto que alguém me contasse que não eu, era uma vez um
coelho muito pequeno e tão manso em busca de bagas vermelhas e de fios de seda.
Ele depressa decifra os códigos de linguagem dos outros
seres de quatro patas, pelo macio e cauda curta, acostuma-se às tocas e aos
trevos de quatro folhas, estica e encolhe as orelhas quatro vezes, a escutar o
vento e os peixes do rio a gorgolejar.
Pela madrugada esfria sempre um pouco e a minha mão
direita cobre-se de frieiras e um floco de neve. O coelho regressa pelo caminho
secreto dos adventos, a boca e o nariz com um pingo de rosa e três bagas de
zimbro ou azevinho ou pimenta do reino para aquecer. Atrás dele um outro
coelho, ainda mais pequeno, dócil e é quase natal.
Não sei a quantos natais resiste um coelho pequeno
nem esse que é mais velho
ou até, se ambos se vão quedar
antes do Natal chegar
Desculpa a ignorância
zimbro é enfeite ou tempero?
Talvez o peso
pese mais que a idade
Esse primeiro musgo, como muitos dos trevos e da erva outonal, anunciam que a estação passou e uma nova fronteira se anuncia. Alguns, chamam-lhe inverno