quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Correio da Lola: "Acha que a Amélia das Marmitas existiu mesmo?..."


Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas


Querida Lola:

Sou uma pessoa honesta, sou leitor do Braganza, ainda ele não existia, mas há coisas que me põem muito aflito, a mim, à minha esposa em Cristo, por Cristo e com Cristo, aos meus cinco filhos, aos dez da minha minha amada, ay, deus, y u é, sei lá... coisas da vida, mas o que me preocupa mesmo é saber se a Amélia das Marmitas existiu. Acha que me pode ajudar nisso?



Paulo Fernandes, Millennium-BCP, Lisboa



Querido Paulo Fernandes:

Para dizer a verdade, a minha vontade era pregar-lhe já um par de estalos, porque vir perguntar à Lola Chupa se a Amélia das Marmitas existiu é um pouco como ir ao Allegro, perguntar a que horas é que fecha o "Continente"... Sabe que nisto, de uma sociedade de consumo não é de bom tom andar a fazer preguntas sobre a concorrência, mas acho que lhe devo uma resposta, mas estritamente dentro dos limites da decência, já que se apresenta como pessoa honrada, e não tem de nascer duas vezes, como o Professor Cavaco Silva, ou três ou quatro, como o Pinto da Costa ou o Rui Machete. Também deixe que lhe diga, antes de mais, que essa coisa da sua prole e da prole da sua esposa em Cristo e com Cristo, e não sei mais o quê, me assentou mal, mas deve ser porque sou fraquinha em contas: até me pareceu a história dos tios, e meios-tios, e primos, e meios-primos do Sócrates, mas depois, sei lá, cá para mim, isso cheira-me a coisa de coelhos, que andam todos enrolados, enrolados, enrolados, uns com os outros, e depois o mundo está no estado em que está de poluição humana, mas quem sou eu para condenar os outros, já que nasci afortunada, porque se a minha boca tivesse ovários, meu deus, havia agora mais goelas no Mundo a chamar-me "mãe" do que aquelas chinesinhas que enterram vivas, na zona franca de Xangai. Portanto, historicamente, ao contrário de certas pessoas que acham que existem, como a Maria Cavavo Silva, a Clara Pinto Correia, a Ágata, o Professor Bambo, e o Professor Bimbo, de Belém, ou o defunto Álvaro Santos Pereira, ou a Sónia Brazão, que nunca ninguém perceberá se quem explodiu foi ela ou o fogão, a Amélia é uma figura com história, currículo  e pegada memorável. Só não deixou foi descendência, porque também tinha o útero ressequido, e aquela polieomielite nunca lhe permitiu servir de barriga de aluguer do Cristiano Ronaldo, porque senão, lá tinha emprenhado de treze gémeos, porque aquela "mulher", que deus tenha, mal despachava um já tinha uma outra longa fila de espera, tipo "Loja do Cidadão", mas do Martim Moniz, porque ela era mais de fazer passaportes em vãos de escada arruinados da Rua do Benformoso, e de aviar clandestinos onde calhasse. Andam por aí umas badalhocas a congratularem-se de ter despachado o plantel todo do Sporting; a  Amélia, como não tinha clube, ia a todos, era aquilo que o Papa Francisquinho chamaria uma baliza ecuménica: tanto preto, sem capital que ela branqueou; tanto branco, que a deixou com as bordas da boca negras, e sobretudo polícias, que ela era mulher de fardas e fardamentos. Como tinha aquelas duas muletas, nem precisava de ajoelhar, soltava os pulsos, em cima, e deslizava com as mãos por ali abaixo, até ficar com a boca à altura do posto de trabalho -- se fosse pintora, tinha passado a vida a pintar a única coisa que viu na vida: fivelas de cinto de macho... -- e eles depois até eram muito cavalheiros, ajudavam-na a pôr-se naquele faz de conta que estou de pé, que era o seu matraquear do truca truca das Marmitas, à espera da vez seguinte, que era sempre muito próxima. Como sabe, só ultimamente é que a juventude confunde noite com drogas e bebedeiras. No tempo da Amélia queriam era foder, e que tusa maior haveria, num país barroco e decadente como este, do que foder uma inválida?... Posso dizer-lhe que ela era muito pouco dado ao coito anal, por causa da poliomielite, e o médico de família, que por acaso nem era médico, era médica (e nem posso pôr o nome aqui, senão ela mata-me...) disse-lhe que tinha aquela doença dos ossos de vidro, sinal de que se apanhasse uma bruta foda da super esquadra de Alcântara, em peso, toda encostada a um tapume abandonado da zona, arriscava-se a sair transformada numa alforreca, a escorrer leite da cloaca... Foi, portanto, muito prudente, senhora dos ares puros, cavalgou o Campo Grande todo, no tempo em que ainda dava para despachar o polícia da porta do Mário Soares, a piscina arruinada não estava inundada de bichas para lá de mortas, em raves de cadáveres, nem havia monhés, a quererem fazer o número da dengosa, que quer que lhe mordam os bicos do peitos, que nojo... Não, ainda havia homens, moitas, e a boca da Amélia. Ainda era possível apanhar o Rui Moreira, que precisava mais de vazar, do que ser eleito Presidente da Câmara do Porto, e, posso dizer-lhe, é um dos grandes mistérios da fé, que nem ela, nem eu, percebemos, aquela armação de metal que ele tem a meio da barriga, não sei se é para imitar a dama de ferro, se é algum aligator mecânico, mas já me estou a desviar da sua pergunta. Sim, a Amélia existiu, e fez muita gente existir; salvou casamentos, e evitou que muitos jovens PSPs se suicidassem, por o salário não dar para pagar uma drogada desdentada de cavalo das moitas da Avenida de Ceuta, onde o Ministro de Estado foi apanhado pelo Dias Loureiro  a mamar, e, desde então, ficou proibido de voltar a dizer mal das pessoas sérias da Quinta da Coelha, que deviam estar todas presas, em vez do Isaltino. A Amélia foi das Marmitas, mas também foi dos Jardins. Fosse Camões e seria uma Tágide... bem, não exageremos, acho que seria mais uma Espôrrade, uma ninfa dos leites, daquelas que teria muito gosto em trabalhar com a Isabel Jonet, já que nunca desperdiçou nada, e engoliu sempre. Foi a Amélia das Culturas, porque passou a vida nas óperas, onde, enquanto a "Traviata" estava naquela chatice do III Ato, já ela tinha aviado nos wcs, com lamés e dourados, uns quantos atos furtivos da mijinha a meio do belcanto, que sempre foi uma especialidade daquela casa da Música. Aliás, diziam as más línguas que o São Carlos era o "Olympia" da Cultura, enquanto as mesmo muito más línguas diziam que o "Olympia" é que era o São Carlos dos intervalos... Bons tempos, em que a Helena Vieira, a cair de bêbeda, fingia que cantava, enquanto a Amélia mamava, e aqueles camarotes, à média luz, funcionavam no mesmo nível de devassidão das óperas de Veneza e Nápoles, no séc. XVIII. Para quê andar a apostar no Leite dos Açores, quando havia tanta ordenha nos bastidores?... Na Rua Jau, a Amélia descia os chichis subterrâneos -- onde até instalaram um banco de jardim, para ela poder descansar a nalgas -- e era como Lord Carnarvon, quando desceu o túmulo do Tutankhamon: viu "coisas maravilhosas", aliás, viu e... sentiu, com a velha dos pedacinhos de papel higiénico amordaçada, a receber, na altura 20 escudos, para ficar de boca calada, verdade seja dita, mais barata do que o coxo do "Palladium", que tinha de receber uma gorjeta maior, para tossir e bater com o pé no chão, sempre que um intruso vinha interromper um comboio de dois ou três, que se estavam a despachar, antes de irem ter com a legítima. Posso dizer-lhe que até já há um movimento para levar o Papa Francisquinho a beatificar esta santa, porque foi uma sobrevivente de vários tsunamis da Capital: o fecho dos chichis do Campo das Cebolas, onde os homens que falam axim, se binham todos na voca dela, e seguiam para Cinfães: o colapso dos sanitários subterrâneos da Praça do Comércio, onde lhe descarregavam na goela os que iam embarcar para o Barreiro; a catástrofe do encerramento do brochanário do Cais Sodré, onde os militares que iam para Belém e para Cascais lhe faziam carreira de tiro à beiça; as hecatombes do Enrabadouro do Rossio, onde as pretas da limpeza foram despedidas por justa causa, e a Amélia mamou, até emparedarem aquilo; o fecho do "Animatographo", um enorme punhetório, onde se corria a cortina, se entrava pela tela, e imediatamente a Amélia estava, na escuridão, pronta para deitar a mão aos enchumaços das calças, na altura em que o operariado fazia bicha, perdão, fila, para ter prazer, em vez de andar a perder tempo às portas dos centros de emprego; e o fecho do "Olympia", por inveja da Filipa la Fúria, essa paneleirona vendida, que como já não conseguia ser enrabada lá também quis impedir que as outras continuassem a ser... ; o fim do "Odeon", também, onde a família Balsemão, proprietária, garantia que os heteros todos de Lisboa e arredores fossem para casa repetir aquele provérbio de que "boca não tem sexo"... sei lá, tanta coisa, no meio disto tudo, morreu com um linfoma, o que foi injusto, já que toda a gente diz que sexo oral provoca cancro. Só se for cancro na boca dos outros, que esta foi como as putas do Quénia: tantos aviou que ficou imune ao HIV, ao HIV+, ao HIV- e até ao HIV+-, que era a especialidade dela... Olhe, querido Paulo, sinceramente, não sei por que tenho estado tanto tempo a escrever-lhe este testamento, para lhe explicar coisas que só a sua iliteracia justifica: às tantas, de todos os seus colegas de trabalho, foi o único que nunca foi aviado pela Amélia, mas agora já vai tarde, a não ser que tenha alguma queda por mortas, que ela não quis ser cremada, e declarou mesmo, naquela hora suprema, "já que nunca fui comida em vida, por causa desta fraqueza de ossos, ao menos que os bichinhos me comam toda, depois de morta..." Vidas. Mas, realmente, anda por aí uma crise que me levou a escrever isto tudo, e uma crise que ainda vai piorar, porque agora, que acabou a Obamomania, no meio de uma bancarrota colossal, prepare-se, porque vêm aí coisas muito más: o conselho do Banco Central Europeu é que toda a gente tenha comida em casa, porque o dinheiro pode desaparecer, de um dia para o outro, dos bancos, onde, aliás, nunca existiu. Vá à sua vidinha calma, ao seu aconchego do guerreiro, passe umas mãozadas nos bicos da sua concubina, que eu agora vou para a noite, para o "trabalho", para a umidade, para o orvalho das cinco da manhã, que antigamente a crise dava outras outras coisas que não orvalho..., mas, como naquele provérbio da Manuela Moura Guedes, e com bancarrota americana, pode ser que eles venham para a rua, e finalmente me comam, coisa de quem bem preciso, e antes de Dezembro, porque, em "Dezembrio frio... caralho enfio". Kisses, nessa sua tora grossa e sumarenta.

5 Responses so far.

  1. A morte da Amélia diminuiu muitíssimo a pressão dos nercados, mas a "Sheila", eu, "Laura", a "Mikas", a "Cathia Sophia", a Monchica, o Ministro de Estado, a Poiares Maduro, tantas, continuam no ativo, enfim, ativo é ser generosa..

    Mais vale dizer que por cada amélia que morre nascem dez, para manter a estabilidade dos casais, graças à santa com cara de saloia :-)

  2. Acho ofensivo, duvidarem da minha existência, mas há gente capaz de tudo... :-\

  3. Unknown says:

    Quem é a maria dos remédios?

  4. Unknown says:

    Quem é a maria dos remédios que veste a cara de uma Macaca????

  5. Eu conheci a Amélia das Marmitas! Diga-se a verdade, que não a conheci intimamente como Cristo conheceu Maria Madalena, ou o apóstolo Paulo, ou lá quem foi, que eu, quase sexagenário já estou muito esquecido. Mas vi-a, com estes que a terra há-de comer e posso testemunhar que usava marmitas.
    Também sei histórias dela. Porém, não com tanto pormenor. Sou mais da história e baseio-me em documentos e testemunhos.
    Aqui vai um dos que eu conheço.
    Como é sabido a Amélia era melómana e frequentava o São Carlos assiduamente.
    Ora um dia no intervalo de uma Traviata ou coisa assim, depois de muito ter chorado com a sorte da desgraçadinha, a Amélia levantou-se do seu lugar e muleta ante muleta dirigiu-se para o corredor, em busca, quiçá, de quem pudesse chupar, num recanto estofado daquela magnífica sala de espetáculos. Ia apressada. Ora, de outro corredor, vinha uma outra melómana, quem me abstenho de referir o nome, por não ser do nosso extrato social, que ao vê-la tão apressada e vendo que a Amélia estava à frente, disse: "Passe, passe. Eu gosto muito de respeitar as bichas". Não sabia a pobre senhora que nessa altura já não se dizia bicha, mas fila.
    Nada mais posso acrescentar, mas sei que o episódio consta da "Nova Enciclopédia Universal da Ópera", como exemplo do respeito que os operáticos têm pelas minorias (debochadas ou não).
    Aqui fica o meu singelo testemunho, para as gerações vindouras que não conheceram a magnificência operática dos chupões da Amélia.
    É um humilde testemunho, mas foi dado de vontade.
    Atento, venerador e obrigado.

 
 

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