Neste blogue praticam-se a Liberdade e o Direito de Expressão próprios das Sociedades Avançadas
Hoje não me apetecia escrever, por que estou demasiado preocupado com Hatra, Nimrod e Palmyra. Há uma semana, fui buscar o livro à estante, e só hoje percebi o que, no subconsciente já me andava a preocupar, e é mesmo isso, o fim explícito da Humanidade, ou, como diria Santo Agostinho, de uma certa Humanidade, através do desaparecimento dos seus testemunhos maiores, mas isto é uma questão privada, e quem a perceber, como eu, que a viva, e perceba por que não deveria estar a escrever hoje, mas estou.
No nosso quintal, a coisa não anda melhor, e anda a ser rodada da forma do costume, ou seja, enquanto caminhamos aceleradamente para uma guerra, ou, melhor, enquanto já aceleradamente avançamos, dentro de uma guerra, o nosso esgoto continua preocupado com minudências, e vamos começar pela parte humorística, a daquela soror Mariana de Vilar de Maçada, que continua, como a outra, com o seu alcoforado enfiado atrás das grades. Parece que houve uma deriva do polo magnético da Terra, e, ao contrário da primeira, que tinha orgasmos fingidos em Beja, esta geme, como uma podenga, no seu descalçário carmelita de Évora. Creio que, sinal do fim de era, em que estamos, é que uma criatura, supostamente detida por risco de perturbação de inquérito, continue, na choldra, a emitir oráculos: "Ah, eu própria atraí sobre mim tanta desgraça!", dizia a outra, "De si nada mais quero. Sou uma doida, passo o tempo a dizer a mesma coisa...", e é verdade, pelo menos, desde que estoirou o escândalo do diploma, em 2007. "Mandar-lhe-ei, pelo primeiro meio, o que me resta ainda de si. Não receie que lhe volte a escrever, pois nem sequer porei o seu nome na encomenda. De tudo isso encarreguei D. Brites" (Esta Dª. Brites, que se saiba, ainda não está na lista de Rosário Teixeira, ou do Juiz Carlos Alexandre, mas é bom que eles se informem, por que a pista está lá, pelo menos, desde o séc. XVII...)
A verdade é que, ao contrário desta, afogueada pela falta de picha, a de Vilar de Maçada é mais de rancores e de ameaças de vingança, fala de gente próxima da "miséria moral", "O que aconteceu aqui foi uma total precipitação de quem estava tão cego pela sua intenção persecutória ou tão convencido da sua teoria e das suas presunções que avançou sem provas ou sequer fortes indícios de quaisquer crimes", e mais "procuro neste momento desculpá-lo, e sei bem que uma freira raramente inspira amor; no entanto parece-me que, se a razão fosse usada na escolha, deveriam preferir-se às outras mulheres: nada as impede de pensar constantemente na sua paixão, nem são desviadas por mil coisas com que as outras se distraem e ocupam", e é isto que nos deveria inquietar, por que, se o bicho preso já é assim, e assim se comporta, como seria o bicho se fosse largado cá fora, como tantos desejam, pois não acabaria o Mundo às mãos do ISIS, mas às dentadas de Vilar de Maçada, salvo seja...
"Não tenho nada que ver com a vida empresarial dele, ele nunca me pediu nada enquanto fui membro do Governo. A nossa relação fraterna é pessoal não é profissional", dizes, que nada que tu digas eu acredito, e vou mais pela voz maviosa da tua antepassada, com o grelo aos saltos pelo Marquês de Chamilly -- que a tinha grande e grossa, como o Nelson Évora --: "Amei-o como uma louca, tudo desprezei! O seu procedimento não é de um homem de bem. É preciso que tivesse por mim uma aversão natural para me não ter amado apaixonadamente. Deixei-me fascinar por qualidades bem medíocres. Que fez para me agradar? Que sacrifícios fez por mim? Não procurou tantos outros prazeres?", coitada, coitada, coitada, ai que apertada, que apertada, que apertada que eu me sinto, e não é para menos: "malas de dinheiro que iam para Paris; o milhão descoberto num cofre que nunca foi meu; e agora um fundo que eu teria para "esconder" os imóveis que nunca tive. Tudo invenções e mentiras", a dor que sente a verdade que deveras sente, "um amante que não voltarás a ver, que atravessou mares para te fugir, que está em França rodeado de prazeres, que não pensa um só instante nas tuas mágoas, que dispensa todo este arrebatamento e nem sequer sabe agradecer-to. Como é possível que a lembrança de momentos tão belos se tenha tornado tão cruel? E que, contra a sua natureza, sirva agora só para me torturar o coração? Ai!, a tua última carta reduziu-o a um estado bem singular: bateu de tal forma que parecia querer fugir-me para te ir procurar. Fiquei tão prostrada de comoção que durante mais de três horas todos os meus sentidos me abandonaram: recusava uma vida que tenho de perder por ti, já que para ti a não posso guardar." E fossemos nós só humanos, simples e mortais, já o nosso coração estaria aqui esvaído em lágrimas:
"Lindo! O ideal do Ministério Público será, portanto, o de um processo onde o arguido esteja em respeito, viradinho para a frente, sem se defender", sim, e "contra mim própria me indigno, quando penso em tudo o que te sacrifiquei: perdi a reputação, expus-me à cólera de minha família, à severidade das leis deste país para com as freiras, e à tua ingratidão, que me parece o maior de todos os males. Apesar disso, creio que os meus remorsos não são verdadeiros; do fundo do meu coração queria ter corrido ainda perigos maiores pelo teu amor, e sinto um prazer fatal por ter arriscado a vida e a honra por ti. Não deveria oferecer-te o que tenho de mais precioso? E não devo sentir-me satisfeita por ter feito o que fiz?..."
E aqui acho que já deverão estar mesmo, como eu, a chorar que nem marias madalenas, e a verdade é que, se até aqui, foi um puro exercício de estilo, um bocejo de escritor, como nós costumamos dizer, é agora necessário voltar à realidade, e a realidade é muito simples: como intelectual, detesto que me manipulem, e a questão das dívidas à Segurança Social de Passos Coelho não passa de mais uma manobra de diversão, num cenário que eu passo a explicar: neste momento, o governo da República, depois de anos de tormenta, entrou na reta final dos seus sinais de agonia. Do ponto de vista histórico, já cumpriu o seu papel, que foi fazer Portugal regredir décadas, destruir uma geração e arredores, mergulhar o país numa catalepsia económica, num pântano financeiro, e deixar à rédea solta todas as ilegalidades e violações sociais e constitucionais.
Cumpre lembrar que, nesta situação, Passos Coelho não passa de um mero idiota a quem o frete foi encomendado, por quem, de direito, e na sombra, há muito, senão quase desde sempre, governa Portugal. Há gente para quem a palavra "Democracia" ainda faz tremer, e é a mesma gente que preferiria que a "evolução na continuidade" tivesse triunfado, e talvez nem fosse mau, como fez a España do então notável Juan Carlos. Quis a História que a coisa não fosse assim, e, enquanto soltavam as feras do enxovalho e da turbulência política e social, essas mesmas caras da sombra permitiram que o país profundo, o país do juízes que nunca mudaram, o velho sistema censório salazarista, permanecesse, basicamente intocável e intocado. Sempre que há uma manifestação dos descontentes dos amealhamentos de uma vida inteira, nós vemos aqueles inacreditáveis fácies, que foram fixados, desde Bosch, passando por Le Brun, e permaneceram, até Lombroso: aquelas são as verdadeiras caras de Portugal, as mesmas que aplaudiam nos autos de fé da Inquisição, as que queimaram a Passarola, as que ainda discutiam a Segunda Escolástica, no tempo de Descartes, as que votaram Cavaco e aplaudiram Carmona, as que sabem que Angola é nossa e até deles, exceto de quem deveria ser, os apreciadores do "Gatos Fedorentos", os metralhistas de todos os "Charlies Hebdo" que não temos, os fãs do Tony Carreira, da Mariza e do Zezé Castel Branco, enfim, tudo isto para dizer que essas mesmas mãos de sombra, que nos querem tornar em marionettes de outras marionettes, mais uma vez soltaram as feras, e transformaram o momento de desintegração e declínio da Nação numa espécie de novo circo, com imbecis atrás de imbecis, a comentar o Vazio, na impossibilidade de olhar para a vaga gigante que se está a avolumar sobre todos nós.
Olhar para a televisão e ouvir falar dos probleminhas de Passos Coelho é exatamente igual a estar a ver a "Casa dos Segredos" ou as longas horas dos anormais que comentam "Futebol": é a mão da manipulação a manipular, mais uma vez, todos os que pensavam que já não podiam ser manipulados mais, pois podem, e estão.
E, já que entramos na realidade, vamos mais fundo, por que a coisa se resume no modo em como a vou expor. Há um dado, no meu perfil existencial e de maturação intelectual que gosto de fazer sobressair e relembrar: sou dos raros Portugueses, ou talvez nem seja tão dos raros assim, que acha que, de tudo o que Cavaco fez, desde que nasceu até agora, nada se salva nem aproveita, e tudo foi nocivo para a Nação, e apenas aguardo, com o mesma ansiedade com que aguardaram aqueles que, noutro tempo, e noutras gerações, ouviram, um dia, dizer que Salazar tinha caído da cadeirinha, que Cavaco já não está entre nós, depois de 20 anos da mais infecta podridão política, sendo que os melhores anos das nossas vidas foram gangrenados pela mera existência dessa obsolescência política e histórica, que nos fez severamente crer que nunca poderíamos deixar de ser a Cauda da Europa.
Contrariamente ao que atrás disse, a repulsa por Cavaco não é só minha, mas transversal a muitos dos setores do pensamento e da orientação política portuguesa. Cavaco foi o indivíduo para quem a Democracia sempre foi, é e será, insuportável, já que representou uma pausa existencial, na sua ilusão de um salazarismo continuado, ad aeternum, a quem ele um dia estenderia a mão, e do qual seria um severo continuador. A História não o quis assim, e ele vinga-se na História e na História dos Portugueses. O dia da sua morte será um dia de libertação, mas o dia da sua humilhação, por muito que isto possa parecer estranho aos que me leem é, verdadeiramente, o que subjaz aos devaneios das dívidas de Passos Coelho, que me interessam tanto como os broches feitos ao Clinton pela Lewinsky, pela simples razão que Passos Coelho nunca existiu, mas foi uma mera fachada frouxa, para que se instalassem, na cena portuguesa, os interesses que a Alcoforada de Vilar de Maçada ainda não tinha deixado penetrar.
A nossa questão fronteiriça, a da "raia", voltou a níveis de inquietação e instabilidade medievais, não sabemos quem somos, onde começamos, nem para onde vamos. Apenas sabemos que estamos, e continuamos, a ser empurrados para lá, e aqui entra o segundo monstro deste filme de terror, Pinto Balsemão, o homem cuja morte, como a de Cavaco, finalmente poderá ser o verdadeiro 25 de abril português. Até lá, estamos numa agonia de vinganças proteladas, de facas afiadas e mentiras. Toda esta gente, a de Bilderberg, sabe que é mortal, e não suporta a sua finitude, preferindo arrastar consigo o fim de todas as realidades, entre Nimrod e Palmyra, ou um belo holocausto atómico em Teherão. Não é por acaso que os melanomas inoperáveis das pálpebras de Pinto Balsemão se manifestam agora, e reveem, nas atrocidades dos ISIS, e dos seus vídeos de execução, rodados nos bastidores cinematográficos da Alemanha. Nem Riefenstahl faria melhor, e o filme continua, e vai continuar, até ao descalabro final.
Num momento em que o Napoleão de Goa não está senão preparado para o seu exílio antecipado, em Santa Helena, com a Alcoforado ainda a gritar, de Évora, pelo extermínio de quem a condenou, com os muitos galambas ávidos de decapitações antecipadas, e um eleitorado completamente desinteressado e apavorado com o que possa ser uma disputa entre um governo já morto, e em pura gestão, e um governo nado morto e sem qualquer possível sustentação, nesse momento, estamos a discutir o sexo dos anjos, enfim, está quem a isso se deixou levar.
Como Clinton, Passos Coelho apenas fez aquilo com que todos os Portugueses sonham e sonhavam poder ter feito. Teve apenas azar, por que os tempos mudaram, e ele foi apanhado com as calças na mão. Quanto à história, a história não é essa, é a história dos afiadores de facas longas, entre os quais me incluo, e estranhos são os tempos em que me vejo cercado dos aliados que mais execro, mas unidos num único propósito, o de que Cavaco Silva, essa neoplasia do tecido democrático, não obtenha a última lápide com que sonha, a de que se diga que, durante o seu ranço e a sua tetraplagia física e mental, foi o único período pós 25 de abril em que uma coligação cumpriu, até ao fim, o seu mandato. Como se pode imaginar, só o prazer de poder tirar ao degenerado neurológico esta derradeira, e premeditada, consolação, me põe os olhinhos a brilhar, e digo, vamos a isso, e se a Segurança Social for a coisa que faça cair o Governo, pois que caia, só para ver o desespero da Múmia de Boliqueime, mas isto sou apenas eu, um nefelibata do vazio da contemporaneidade: a realidade é infinitamente mais vasta, e afastada de qualquer laplacianismo sonhado, por que, caído Passos, nada garanta que não volte, e revigorado, ou substituído por aquela indiscritível massa de podridão que rodeou o nado morto António Costa. Como sempre, nem "Podemos", nem "Syrizas", nem coisa nenhuma encontramos para substituir este impasse, atafulhados nos Acidentes Eucarísticos, e na trama da Segunda Escolástica, ou talvez o vejamos, inesperadamente resolvido, com uma coligação imprevista, entre os Pastorinhos, o Cristiano Ronaldo e a Teresa Guilherme, como Ministro de Estado.
Uma coisa é certa: isto vai, como em Nimrod, acabar profundamente mal.
"Lindo! O ideal do Ministério Público será, portanto, o de um processo onde o arguido esteja em respeito, viradinho para a frente, sem se defender", sim, e "contra mim própria me indigno, quando penso em tudo o que te sacrifiquei: perdi a reputação, expus-me à cólera de minha família, à severidade das leis deste país para com as freiras, e à tua ingratidão, que me parece o maior de todos os males. Apesar disso, creio que os meus remorsos não são verdadeiros; do fundo do meu coração queria ter corrido ainda perigos maiores pelo teu amor, e sinto um prazer fatal por ter arriscado a vida e a honra por ti. Não deveria oferecer-te o que tenho de mais precioso? E não devo sentir-me satisfeita por ter feito o que fiz?..."
E aqui acho que já deverão estar mesmo, como eu, a chorar que nem marias madalenas, e a verdade é que, se até aqui, foi um puro exercício de estilo, um bocejo de escritor, como nós costumamos dizer, é agora necessário voltar à realidade, e a realidade é muito simples: como intelectual, detesto que me manipulem, e a questão das dívidas à Segurança Social de Passos Coelho não passa de mais uma manobra de diversão, num cenário que eu passo a explicar: neste momento, o governo da República, depois de anos de tormenta, entrou na reta final dos seus sinais de agonia. Do ponto de vista histórico, já cumpriu o seu papel, que foi fazer Portugal regredir décadas, destruir uma geração e arredores, mergulhar o país numa catalepsia económica, num pântano financeiro, e deixar à rédea solta todas as ilegalidades e violações sociais e constitucionais.
Cumpre lembrar que, nesta situação, Passos Coelho não passa de um mero idiota a quem o frete foi encomendado, por quem, de direito, e na sombra, há muito, senão quase desde sempre, governa Portugal. Há gente para quem a palavra "Democracia" ainda faz tremer, e é a mesma gente que preferiria que a "evolução na continuidade" tivesse triunfado, e talvez nem fosse mau, como fez a España do então notável Juan Carlos. Quis a História que a coisa não fosse assim, e, enquanto soltavam as feras do enxovalho e da turbulência política e social, essas mesmas caras da sombra permitiram que o país profundo, o país do juízes que nunca mudaram, o velho sistema censório salazarista, permanecesse, basicamente intocável e intocado. Sempre que há uma manifestação dos descontentes dos amealhamentos de uma vida inteira, nós vemos aqueles inacreditáveis fácies, que foram fixados, desde Bosch, passando por Le Brun, e permaneceram, até Lombroso: aquelas são as verdadeiras caras de Portugal, as mesmas que aplaudiam nos autos de fé da Inquisição, as que queimaram a Passarola, as que ainda discutiam a Segunda Escolástica, no tempo de Descartes, as que votaram Cavaco e aplaudiram Carmona, as que sabem que Angola é nossa e até deles, exceto de quem deveria ser, os apreciadores do "Gatos Fedorentos", os metralhistas de todos os "Charlies Hebdo" que não temos, os fãs do Tony Carreira, da Mariza e do Zezé Castel Branco, enfim, tudo isto para dizer que essas mesmas mãos de sombra, que nos querem tornar em marionettes de outras marionettes, mais uma vez soltaram as feras, e transformaram o momento de desintegração e declínio da Nação numa espécie de novo circo, com imbecis atrás de imbecis, a comentar o Vazio, na impossibilidade de olhar para a vaga gigante que se está a avolumar sobre todos nós.
Olhar para a televisão e ouvir falar dos probleminhas de Passos Coelho é exatamente igual a estar a ver a "Casa dos Segredos" ou as longas horas dos anormais que comentam "Futebol": é a mão da manipulação a manipular, mais uma vez, todos os que pensavam que já não podiam ser manipulados mais, pois podem, e estão.
E, já que entramos na realidade, vamos mais fundo, por que a coisa se resume no modo em como a vou expor. Há um dado, no meu perfil existencial e de maturação intelectual que gosto de fazer sobressair e relembrar: sou dos raros Portugueses, ou talvez nem seja tão dos raros assim, que acha que, de tudo o que Cavaco fez, desde que nasceu até agora, nada se salva nem aproveita, e tudo foi nocivo para a Nação, e apenas aguardo, com o mesma ansiedade com que aguardaram aqueles que, noutro tempo, e noutras gerações, ouviram, um dia, dizer que Salazar tinha caído da cadeirinha, que Cavaco já não está entre nós, depois de 20 anos da mais infecta podridão política, sendo que os melhores anos das nossas vidas foram gangrenados pela mera existência dessa obsolescência política e histórica, que nos fez severamente crer que nunca poderíamos deixar de ser a Cauda da Europa.
Contrariamente ao que atrás disse, a repulsa por Cavaco não é só minha, mas transversal a muitos dos setores do pensamento e da orientação política portuguesa. Cavaco foi o indivíduo para quem a Democracia sempre foi, é e será, insuportável, já que representou uma pausa existencial, na sua ilusão de um salazarismo continuado, ad aeternum, a quem ele um dia estenderia a mão, e do qual seria um severo continuador. A História não o quis assim, e ele vinga-se na História e na História dos Portugueses. O dia da sua morte será um dia de libertação, mas o dia da sua humilhação, por muito que isto possa parecer estranho aos que me leem é, verdadeiramente, o que subjaz aos devaneios das dívidas de Passos Coelho, que me interessam tanto como os broches feitos ao Clinton pela Lewinsky, pela simples razão que Passos Coelho nunca existiu, mas foi uma mera fachada frouxa, para que se instalassem, na cena portuguesa, os interesses que a Alcoforada de Vilar de Maçada ainda não tinha deixado penetrar.
A nossa questão fronteiriça, a da "raia", voltou a níveis de inquietação e instabilidade medievais, não sabemos quem somos, onde começamos, nem para onde vamos. Apenas sabemos que estamos, e continuamos, a ser empurrados para lá, e aqui entra o segundo monstro deste filme de terror, Pinto Balsemão, o homem cuja morte, como a de Cavaco, finalmente poderá ser o verdadeiro 25 de abril português. Até lá, estamos numa agonia de vinganças proteladas, de facas afiadas e mentiras. Toda esta gente, a de Bilderberg, sabe que é mortal, e não suporta a sua finitude, preferindo arrastar consigo o fim de todas as realidades, entre Nimrod e Palmyra, ou um belo holocausto atómico em Teherão. Não é por acaso que os melanomas inoperáveis das pálpebras de Pinto Balsemão se manifestam agora, e reveem, nas atrocidades dos ISIS, e dos seus vídeos de execução, rodados nos bastidores cinematográficos da Alemanha. Nem Riefenstahl faria melhor, e o filme continua, e vai continuar, até ao descalabro final.
Num momento em que o Napoleão de Goa não está senão preparado para o seu exílio antecipado, em Santa Helena, com a Alcoforado ainda a gritar, de Évora, pelo extermínio de quem a condenou, com os muitos galambas ávidos de decapitações antecipadas, e um eleitorado completamente desinteressado e apavorado com o que possa ser uma disputa entre um governo já morto, e em pura gestão, e um governo nado morto e sem qualquer possível sustentação, nesse momento, estamos a discutir o sexo dos anjos, enfim, está quem a isso se deixou levar.
Como Clinton, Passos Coelho apenas fez aquilo com que todos os Portugueses sonham e sonhavam poder ter feito. Teve apenas azar, por que os tempos mudaram, e ele foi apanhado com as calças na mão. Quanto à história, a história não é essa, é a história dos afiadores de facas longas, entre os quais me incluo, e estranhos são os tempos em que me vejo cercado dos aliados que mais execro, mas unidos num único propósito, o de que Cavaco Silva, essa neoplasia do tecido democrático, não obtenha a última lápide com que sonha, a de que se diga que, durante o seu ranço e a sua tetraplagia física e mental, foi o único período pós 25 de abril em que uma coligação cumpriu, até ao fim, o seu mandato. Como se pode imaginar, só o prazer de poder tirar ao degenerado neurológico esta derradeira, e premeditada, consolação, me põe os olhinhos a brilhar, e digo, vamos a isso, e se a Segurança Social for a coisa que faça cair o Governo, pois que caia, só para ver o desespero da Múmia de Boliqueime, mas isto sou apenas eu, um nefelibata do vazio da contemporaneidade: a realidade é infinitamente mais vasta, e afastada de qualquer laplacianismo sonhado, por que, caído Passos, nada garanta que não volte, e revigorado, ou substituído por aquela indiscritível massa de podridão que rodeou o nado morto António Costa. Como sempre, nem "Podemos", nem "Syrizas", nem coisa nenhuma encontramos para substituir este impasse, atafulhados nos Acidentes Eucarísticos, e na trama da Segunda Escolástica, ou talvez o vejamos, inesperadamente resolvido, com uma coligação imprevista, entre os Pastorinhos, o Cristiano Ronaldo e a Teresa Guilherme, como Ministro de Estado.
Uma coisa é certa: isto vai, como em Nimrod, acabar profundamente mal.
(Quarteto do colapso civilizacional, no "Arrebenta- SOL", no "Democracia em Portugal", no "Klandestino" e em "The Braganza Mothers")
Há a perversidade de isto poder ser tudo verdade...