Gosto de atirar pedras ao charco, acordar as rãs. Somos
parecidas, que eu desse conta, não possuímos cauda e respiramos através da
pele. Escolho uma pedra arredondada, achatada, o peso ideal é uma coisa
intuitiva para rodar pelo ar e à tona de água tocar uma, duas, três vezes. Até
cinco, é o meu melhor. Os peixes fingem assustar-se, os mosquitos alados voam e
as ditas rãs, saltam, os membros posteriores longos, flexíveis e aquele movimento,
impulso, que as faz lançar para cima e para a frente.
É um jogo de aproximação afastamento. E ficamos por aí.
Não me interessa a fisiologia, o chamamento, o ciclo de vida. Da primeira vez
que dissequei uma rã, caí para o lado, o cheiro a éter, o coração a latejar e
eu nauseada. Não se devem beijar sapos, raramente são príncipes. E no entanto
há uma toxina latente em cada um de nós, uma língua pegajosa, um tímpano mal
tapado.
A rã noturna usa a artimanha da máscara, da camuflagem,
da viscosidade. É o seu mecanismo de ataque. Uma noite distrai-se, inocula-se
com o seu próprio veneno, incha, arrebenta, implode.
E eu com as rãs a soltar juncos, a coaxar lagos.
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